sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PEQUENO DEVER DE CASA



Perguntei se ela havia gozado. Ela tergiversou. Palavrinha obscura, mas por estranho que pareça não me ocorreu nenhuma outra mais apropriada naquele momento na cama. Virei para o lado exausto e satisfeito e nem mesmo a paroxetina ou o clonazepam que tomo todos os dias me proporcionaram igual sensação de bem estar. O sexo bom tem lá sua incompreensível e maravilhosa química. Ela, blasé, me deu a nota seis e meio e logo depois compassiva ou mais sincera aumentou para sete. Eu disse que havia sido muito bom e lhe dei oito e meio para nove.Ela não me pareceu surpresa ou até mesmo contente. Vestiu-se calada e disse que precisava ir. Pedi para continuar despida na cama e ela sem muito relutar, topou. Examinei rapidamente, todavia de maneira detalhada suas formas simétricas e rijas como quem acaba de receber um mapa de uma terra desconhecida. Brinquei e disse que para quem não havia gozado a cama estava bastante molhada. Ela revidou sorrindo e falou que de fato eu não deveria ter transado já há algum tempo pela quantidade de sêmen estocado na camisinha. Permanecemos nus e ela finalmente me abraçou e confessou coisas íntimas, como que havia transado recentemente com seu ex. Obviamente não caí no erro de perguntar se foi melhor com ele que comigo. Ela pediu chocolate enquanto eu tomava a terceira cerveja e enquanto ela brincava como uma criança levada com as luzes do motel eu lembrava Nabokov.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DA ELEIÇÃO DA OAB/PA E OS MANGÁS DE MINHA INFÂNCIA


Dedicado aos candidatos e aos pseudo-candidatos à presidência da OAB-Pa e às suas discussões hilárias travadas pela internet.





É de causar estranheza aos nossos olhos presenciar o embate feroz dos leões se digladiando. Feras tão majestosas, de naturezas tão inexpugnáveis, quase quiméricas, despindo-se de sua potestade, despojando-se de toda nobreza de seus títulos nobiliárquicos e de seus postos de monarcas, para descer fragilizados à arena, tais quais reles e vulgares chacais em seus covis disputando um parco pedaço de putrefata carcaça. Enquanto entrelaçados em suas refregas sanguinárias e cruentas parecem, à nossa vista, tão vulneráveis que imaginamos que se atirássemos uma pequena pedra faríamos soçobrar todo seu castelo de reis da floresta. Mas não se enganem os leões com suas empáfias tradicionais travam batalhas tão-só uns contra os outros, com os da sua estirpe e diferentemente da fábula bíblica devoram Davis roendo-os até os ossinhos.


Mais interessante é a briga entre piratas e mercenários. Ébrios e fanfarrões batem armas entre si pelos motivos mais tolos possíveis apenas para provarem suas habilidades de espadachins ou para aplacar o tédio dos dias monótonos sem batalhas. Entre pilhérias e manobras acrobáticas de seus floretes acusam-se de trapaças; de cartas marcadas; de furtos de um olho de vidro ou de dobrões de ouro. Quando a lassidão lhes chega, alquebrados, sucumbem e tornam a se abraçar fraternalmente entornando goela abaixo mais um barril de rum, e entre um gole e outro, brindam rememorando as aventuras passadas em outras fragatas, os tesouros repartidos e seguem planejando suas próximas pilhagens.


O que dizer então das hilárias discussões dos congressistas e dos membros da cúpula do Judiciário? Estas eu não perco por nada deste mundo. A imperiosa necessidade de conjugar o que é incompatível, ou seja- os impropérios às honrarias designadas às funções que ocupam- é tão absurda que as frases se tornam risíveis, burlescas. Daí surgem pérolas como, “V.Exa é um ladrão, um babaca”, ou ainda: “ V.Exa me respeite, não sou um de seus capangas do Mato Grosso, o senhor destruiu o judiciário brasileiro...". É como se o “V.Exa” preservasse certa dignidade aos adjetivos abjetos que sucedem. Caso retirado o pomposo “Vossa Excelência”, acabariam, em última análise, por macular a própria função, ultrajando a si próprios, uma vez que os ofensores são de igual forma “Vossas Excelências”.


Mesmo os reis e os nobres não estão livres destes arroubos. Perdendo a fleuma, por vezes bradam “porque non te callas?”. Alguns Presidentes, ao seu turno, preferem algo mais contundente como: “vayanse al carajo yankkes de mierda”, esquecendo-se do lema, “hay que endurecer pero sin perder la ternura”que lhes guiava nos tempos de la revolucion.


Não tão diferente das feras, corsários, políticos e nobres é a luta das alianças, ou seja, as famosas brigas de casais. No meio de maridos desesperados flagrados com mulheres espúrias – que até então acreditávamos se tratar apenas de suas secretárias e estagiárias – e esposas enciumadas, neuróticas e a beira de um ataque de nervos, não sabemos para onde correr, que direção tomar? Convidar a quem para aquela festa de inauguração de seu AP? Em quem acreditar? Que partido tomar, o da esposa supostamente traída ou do marido e de sua nova aliança? Sei não, se fugimos de Caríbdis caímos em Cila. Se estiverem separados, amanhã quem sabe haja reconciliação; se estão juntos, quiçá permanecerão. O melhor mesmo parece ser seguir o velho ditado popular e não meter a colher.


Gosto mesmo é da porrada entre mulheres (desculpem o baixo calão, mas a palavra neste caso é insubstituível). Quanto mais barraqueiras e escandalosas, melhor. Sem pudores, achincalham-se, acusam-se de putas, vagabundas, mentirosas, falsas, traíras, e de loiras oxigenadas. No calor do momento, vingativas, entre um puxar e outro de cabelos, em nome de suas vindictas, expõem seus conchavos e suas vidas pessoais aos quatro cantos e em alto e bom som, para quem quiser ouvir. Que aquelazinha, antes de sua ajuda, chafurdava na lama com Cicrano; que a outra sempre fora vista em hotéis de alta rotatividade na companhia de Beltrano, e por ai vai. Passada a peleja, têm vergonha de sair às ruas.


Brigas e embates à parte, tenho saudades mesmo é dos combates travados pelos Samurais, personagens dos mangás que acompanharam minha infância. Nos quadrinhos daquelas páginas amarelecidas lidas de trás para frente, esses bravos e briosos heróis e vilões erguiam suas katanas afiadas apenas para defender com hombridade sua casta, a honra de seus ancestrais e as reivindicações de sua classe. Seus rígidos códigos de honra não permitiam humilhações a seus rivais de armas. Quando desonravam seus ideais, cravavam profundamente o tanto em seus estômagos até que atingisse as entranhas. Eleição da OAB/PA ai, às portas, seria prudente deixarmos de lado as feras, corsários, barraqueiras e etc., e nos mirarmos no exemplo destes nobres paladinos orientais dos mangás. Por falar em mangás, ainda me restaram alguns guardados em uma empoeirada caixa de tralhas velhas. Meus caros senhores candidatos (e crítico de candidatos), querendo: empresto.Arghhhh

sexta-feira, 31 de julho de 2009

ÚLTIMAS IMPRECAÇÕES DE UM ARIANO PUTO DA VIDA

, Alguem por favor me emprestaria um litro de álcool Tubarão e um fósforo?

Não pense reconhecer em minhas palavras qualquer traço daquele sentimento vulgar que inspira àqueles que desdenham o que não lhes pertence mais. E se te desejo que naufragues no marasmo de uma vida sem sentido e cercada de frustrações é apenas porque isto me parece o rumo natural das coisas.

Não julgues também confundir este meu desejo secreto com a obviedade das lágrimas piegas que choram os desconsolados pelo amor não correspondido. E se ainda dou-me ao trabalho de rogar estas últimas imprecações extemporâneas é tão-só porque minha pena segue ferina e afiada e minha voz, há muito abafada na garganta, não vê a hora de sair, ganhar o mundo e tão-somente por isso elegi você como tema.

Tampouco confunda minha pequena mágoa com vil despeito, orgulho ferido, ou com aquilo que Lupicínio muito bem batizou de dor-de-cotovelo. Meu cotovelo anda muito bem, obrigado. E se quando escuto “quem te viu, quem te vê” me vem o desejo de que vagues eternamente no vazio angustiante de cama em cama, como Íxion girando em sua roda, sem nunca poder dizer "eu te amo" sem que teu parceiro não perceba a falsidade de tuas palavras; ou que teu fígado seja devorado milhões de vezes pelos abutres, tal qual Prometeu ( que como tal ao nascer de cada dia tuas esperanças renasçam e sejam devoradas antes mesmo do pôr-do-sol) decorre apenas do fato de que talvez eu tenha algum ascendente em escorpião, sei lá, ou simplesmente me recuse a aplaudir os anos de teatro barato que me ofereceste. Nada mais que isto..

Por favor, não me venha dizer que esta recusa em aceitar com resignação estóica teus disparates seja devido ao fato de ainda lhe guardar qualquer resquício de amor ou por pensar em alguma tola e esperançosa reconciliação. Madame, amor e ódio só caminham juntos nos estúpidos folhetins de banca de revista ou em novelas mexicanas. Meu desejo de que te afogues em suco de graviola e que ganhe mais pelo menos 5Kg entupida de chocolate, de outra forma nada tem a ver com ódio é apenas uma espinha engasgada.]

De mais a mais, como poderia odiar-te pelo simples fato de haver me descartado como laranja chupada tão logo que encontrou quem provia teu prato com comida mais farta, isto até me polpa alguns tostões? Como poderia querer teu mal se todas as vezes que estavas exposta ao relento de uma sarjeta fétida eu te dei abrigo? Se nas vezes em que te atiravam pedras como a adúltera bíblica eu te servi de escudo? Creia-me, é apenas por gostar de comédias do tipo pastelão que rio a mais não poder quando vejo que tua máscara cai em pleno palco e que teu personagem patético de menina pobre do interior; de viúva zelosa e pudica; de Madalena arrependida, não convence nem mais as moscas.

Tenho para mim que é por gostar de filmes trash de terror, daqueles que o sangue parece espirrar nas telas e que voam membros decepados para todos os lados, que tenho um prazer quase mórbido quando me vem em mente que sabes que teu lívido pescocinho repousa debaixo de uma afiada guilhotina que balança feito pêndulo e cuja corda ameaça a todo momento partir-se bastando para tanto uma leve lufada de vento ou uma brisa qualquer.Ah! maravilhosa espada de Dâmocles. E tudo isto sem que sequer minhas mão se sujem desatando o nó( como havia te prometido). Mas, que fique novamente claro, também nisto não há traço algum de ódio.

Tanto é assim, que desnecessárias estas imprecações, agora que as leio acho tão inúteis quanto supérfluas. Bastaria cantarolar a canção que Cartola fez para filha, cujos versos encerram tudo o que aqui nem precisaria ser dito. “de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estas à beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés”. E passe mal, mas sem ressentimentos ta?!!

terça-feira, 28 de julho de 2009

COM OS OLHOS BEM "CERRADO"

Imagens do cerrado maranhense no Município de Carolina. Fotos: Eduardo Cunha

caminho para cachoeira da Pedra Caída

Cachoeira de São Romão

Cachoeira da Prata

Pau-de-arara do Sr. Raimundo


Caminho para as cachoeiras de São Romão e Prata

Singrei mares desconhecidos tingidos de amarelo ocre ladeados por enormes monumentos e templos de pedra insculpidos pelos séculos

Onde a Siriema cruza a estrada impávida com a serpente envolta ao bico e as árvores se curvam reverenciando o sol cáustico; Onde a paz solitária e atordoante do vazio profuso nos mostra quem somos.


Cortando vales lanhado por galhos de gravatás e umbus, como um retirante, percorri léguas de trilhas e chapadões no lombo de um pau-de-arara e de seu ritmo alucinante;


Que lugar mágico onde as águas cristalinas das cachoeiras escorrem escondendo as grotas ;


Que lugar idílico fora do tempo que nos faz sentir vivos.


Quis reler on the roade e comprar um jipe amarelo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

ENTRE A LOUCURA E A LUCIDEZ ENTRE A VERDADE E O ROCK INGLÊS


"A maior loucura de uma homem nesta vida é deixar-se morrer" - CERVANTES



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Neste último fim-de-semana resolvi ficar em casa e não viajar. Loquei uns filmes.......Minto, comprei um punhado de DVDs piratas para assistir. Entre vários que vi um em especial me chamou bastante atenção. Talvez nem tanto propriamente pelo filme, cuja trama achei um pouco monótona ( trata-se de uma opinião pessoal, não pretendo ser crítico da 7º arte), mas pelo tema angustiante que abordava. Se chamava “Foi apenas um sonho”, baseado no romance de Richard Yates,com Leonardo DiCáprio e Kate Winslet e dirigido pelo ganhador do Oscar. O filme narra a história de uma casal pouco convencional da década de 50, que, percebendo que caíram em uma vida vazia e sem sentido, em uma rasgo de loucura ou lucidez resolvem abandonar emprego e a estabilidade que representam o sonho americano e perseguir os desejos de quando jovens, ir morar em Paris e dedicarem-se cada qual ao que realmente lhes dava satisfação pessoal. As coisas acabam tomando outro rumo e eles, frustrados, se rendem ao que todos julgavam a decisão sensata, ou seja, o retorno à antiga vida vulgar e convencional. O curioso no filme é que a única pessoa que parece lhes apoiar em sua jornada inusitada é um louco (talvez o mais lúcido).



Este mesmo assunto só havia mexido comigo tão intensamente quando li “O clube da luta”, Chuck Palahniuk, em 2006, também adaptado ao cinema. No livro o personagem louco anarco-terrorista aborda aleatoriamente qualquer transeunte com um fuzil. Questiona sobre o trabalho que exerce e de qual gostaria realmente de exercer. Em seguida lhe toma os documentos e ameaça que retornará em 6 meses para matá-lo caso não o encontre como uma bailarina, um escritor, um astronauta, um palhaço, etc.



A questão dos dois livros ou filmes é a seguinte: quem verdadeiramente é o louco e quem é o são? Quem é sensato e quem é o imaturo? Resolvi perder algum tempo estudando a patologia para ver onde me encaixo.



O LOUCO:



O LOUCO MANSO- Loucura para um senso comum é o estado da pessoa que não consegue de maneira nenhum conviver e respeitar as regras sociais. O que se convencionou tabular como mandamentos do homem são. Louco manso é aquele que mesmo recalcitrante às convenções, não usa de qualquer artifício para atacá-las. É o estudante do último ano de Direito que resolveu largar a faculdade e vender pulseirinhas em Algodoal.



O LOUCO FURIOSO- Loucura furiosa é o estado da pessoa que de tanto lhe dizerem o que deveria seguir e de como deveria ser, enchendo-lhe com frases clichês do tipo “você deveria seguir o exemplo do seu primo, ele é alguém na vida”, tornou-se revoltado. Louco furioso é o anarco-terrorista do “clube da luta”, é o Coringa do filme Batman: o cavaleiro das trevas, que ateia fogo nos milhões roubados. Se não torrasse a bufunfa seria ladrão, mas completamente lúcido.



O LOUCO PETER PAN- Comumente confundido com a primeira das categorias de loucos, mas dela se distuingue pelo fato de todos o acusam de imaturidade. Recusa-se a crescer. Sabe que “crescer” significa tornar-se igual a todos, ou seja, são. Esta categoria vive em conflito entre viver sua vida e assumir as responsabilidades de um homem maduro. Esses são severamente bombardeados pela critica feminina.



O LOUCO DE ÚLTIMA HORA Muito comum nos dias de hoje é o louco de última hora. O louco deste gênero é o sexagenário que percebe que já não lhe resta lá muitos anos de vida e resolve assumir sua patologia. Enquanto a doença se resume ao (a) coroa freqüentar a academia não há problemas. “papai(mamãe) só está cuidando da saúde”. Depois que o(a) velho manda às favas um casamento frustrado que tolerava há mais de 30 anos e resolve torrar o vil cobre que conquistou à duras penas com o suor do ser rosto e “despirocar”, curtir a vida, ai o bicho pega. Acusam-lhe logo de senilidade.



O LOUCO EXCÊNTRICO- O louco excêntrico é aquele que percebe que louco são os outros e não ele, mas não tem “culhão”(desculpem o baixo calão) suficiente para assumir de vez e viver sua vida. Por isso apenas uma vez ou outra faz um ato de loucura (excentricidade para os outros) e retorna à sua vida normal como um cão com o rabo entre as pernas. Normalmente é o caso dos artistas.



O LOUCO DEPRESSIVO- Aquele que percebe a fatuidade e absurdo da vida e do mundo, mas se perde em questões existências e não encontra outra solução a não ser somatizar todos estes problemas. Talvez seja o caso da maioria dos que sofrem do mal do século, como o louco do filme “foi apenas um sonho”



O LOUCO MÁRTIR- É um louco como qualquer um desses que faz um enorme ato de loucura e, posteriormente, algum grupo religioso ou político atribui ao seu ato significado que possam tirar vantagem. Ex: Lady Godiva andando nua pela cidade montada em um cavalo branco. Depois criaram histórias sobre ela que supostamente o fato de andar nua de pelo montado em um cavalo branco seria um nobre ato de protesto contra os duros impostos e a intolerância que seu marido afligia aos necessitados.



O LOUCO DO ARMÁRIO- Aquele que vive disfarçado entre os sãos, mas “louco” pra ver um outro doido ao seu lado tomar coragem para lhe seguir os passos.



O LOUCO VISIONÁRIO- o louco visionário é qualquer desses tantos já narrados que de alguma forma conseguiu um bruto sucesso com a sua loucura Se dão sorte e o descobrem enquanto vivos se torna tão logo um grande cidadão respeitado perante a sociedade, um visionário. Ex: . Se passam a vida toda como loucos e após décadas de morto lhe dão valor, se tornam gênio . Ex: Kafka





O SÃO- Qualquer um que não pertença de nenhuma forma a pelo menos uma dessas categorias, que frustrado por medo ou convenção não faz o que quer.



Faço minhas as palavras de Raul (outro louco) “ eu vou fazer o que eu gosto”





“Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor



Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz (BALADA DE UM LOUCO-RITA LEE E ARNALDO BATISTA)



domingo, 19 de julho de 2009

LOW PROFILE: NEM PENSAR



Se sou Anti-Herói, sou apenas por desencanto. Também já fui lírico apaixonado, humanista convicto, idealista convincente.

Cínico e cretino,vou confessar, isto sou desde que me entendi por gente.

Anarquista talvez por deformação política ou porque me agrade o cheiro da desobediência;da insubordinação fortuita; do gosto de sangue na boca.

Tenho um geniozinho peculiar: como diria Chico, ajo duas vezes antes de pensar ao mesmo que falo muito e faço pouco, contraditório, inconsistente, mais um ariano cabeça oca.

Como amante, mediano,por vezes egoísta e afoito, porém afetuoso,esforçado.Trago comigo um pouco do gosto de toda mulher que amei. Mesmo sendo fumante compulsivo não lembro haver deixado nenhuma na mão por........digamos "displicência".

Artista, apenas por muita presunção ou insistência, instrução nunca tive, aulas nunca tomei, talento não me veio de berço.

Ébrio é por contumácia, pândego de carteirinha. Boêmio certamente é pela vadiagem ter apreço.

Libertino e imoral, não saberia dizer, veleidade ou descrença, lascivo vem logo como conseqüência.

Mentiroso é só mesmo por necessidade ou pela profissão exigir-me isto em abundância.Cafajeste e canalha, como bom mentiroso, digo que é por força da circunstância.

Niilista por convicção, porém engajado ; sarcástico, mas um espirituoso inveterado; por vezes sensato,por vezes celerado.

Temperamental e prepotente, sou rude copiosamente.

Minhas rimas são pobres, minhas frases são clichês,

Aspirante a escritor, não tenho dúvidas, por comiseração e paciência alheia, apenas e tão-somente.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A UNHA E A CARNE- CRôNICAS DE UMA DESPEDIDA





À amiga “carne”, texto psicografado em 10 minutos após uma ligação chorosa de meia hora.



As unhas são vaidosas, pintam-se, limpam-se, lustram-se. Quando olhamos para os dedos das mãos não notamos outra coisa senão elas ostentando sua beleza. A carne não, está ali ensimesmada, escondida entre nervos e peles sustentando nos ombros com altivez e hombridade o peso das unhas. Não lhe atrai a fatuidade e brilho ofuscante das bases nem mesmo colorido cintilante dos esmaltes.

As unhas são expansivas, se deixar crescem tanto que tão logo ocupam espaço que nem lhes cabe, sendo prudente serem podadas vez por outra. A carne, pelo contrário, sempre sabe o lugar e a importância que possui, cônscia, sequer se queixa do avanço presunçoso das unhas, apenas sorri, aquele sorriso das mães que, sem os perder de vista, vêem seus bebês correndo nas praças.

No fundo toda esta ternura provém do fato de a carne ser reconhecedora e grata à função que desempenham as unhas, pois que sem elas estaria desprotegida, exposta, triste. Sabe que precisa da firmeza de sua queratina petrificada, dura feito rocha para lhe servir de escudo contra os perigos que habitualmente passam entre os dedos.

Mas as unhas além de protetoras também sabem ferir, arranham profundamente, sendo conhecedora dos recônditos esconderijos da carne. Amiúde, ferem exatamente quem menos deveriam; quem lhe serve de apoio e sustento; quem diariamente lhe expõe o mais íntimo de suas entranhas; quem lhes esquenta quando o frio severo as tornam roxas: a própria carne. Então quem só andavam juntas se separam.

De um lado a carne exposta às intempéries, teimosa feito búfalo, sem dar os braços a torcer; de outro a unha, encravada, cortada, decapitada pelas lâminas afiadas da tesoura, torturada pelo remorso de haver ferido sua companheira.

De que vale uma sem a outra? De que vale as vigas de uma edificação sem um telhado que lhe cubra do sereno e da chuva? De que vale o escudo mais reluzente e dourado, capaz de aplacar os mais duros golpes da espada, sem a força dos braços para lhes escorar o peso?

Conquanto distantes e amuadas reconhecem o valor que representam umas as outras. Uma sabe que mesmo vaidosa, dura e por vezes violenta, precisa da afetuosa proteção da outra. A outra, por outro lado sabe, que pouco sobreviverá sozinha, apodrecerá na sarjeta ou nas lixeiras sem qualquer utilidade.

A carne, estóica, a essa hora arruma as malas rumo aos rincões do Jalapão, tem consciência que mesmo que demore, de suas entranhas brotarão outras unhas, mesmo que não iguais àquelas. As unhas ficam. Conquanto saudosas, esperam outras carnes que possam doar sua proteção.Caminham, caminham, caminham, mas sabendo que mais dia menos dia estarão umbilicalmente unidas novamente. Ora, afinal não são unha e a carne.


ASS. AMIGA "UNHA"





sábado, 11 de julho de 2009

A INVESTIDA ESTRANGEIRA E O FUNDO NACIONAL



À beleza hipnótica da jovem Mayara, capaz de curvar até mesmo os mais poderosos do mundo. Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor.



O Brasil se reuniu nesta última sexta feira, dia 10, em Áquila na Itália com a cúpula do G-8, Grupo que reúne os sete países mais ricos do mundo e a Rússia, e aproveitou a ocasião para apresentar seu produto de maior aceitação e popularidade interna: a G-nética curvilínea da mulher brasileira.


Conquanto a pauta de discussão da reunião não girasse inicialmente em torno deste tema, digamos: tão interessante, não houve marmanjo nela presente que, tal qual um operário de construção civil, não voltasse os olhos cobiçosos e concupiscentes à “emergência” dos países emergentes, em especial os atributos da “emergência” brasileira, já tão conhecida por nós.


De fato, nossa adolescente carente de 17 anos, enviada brasileira do Unicef- Fundo Das Nações Unidas para Infância, representando o fundo de maneira excepcional, não deixou nada a desejar, ou melhor, tudo a desejar, tanto assim que depois de “secada” ostensivamente pelo Mandela de fast-food, correu de manchete em manchete nos principais jornais do mundo, todos querendo saber “o que é que a baiana tem”.


Gringos embasbacados, Paparazzi desnorteados, primeiras-damas abundantemente furibundas (desculpem o trocadilho infame) e o nosso produto, agora tipo exportação, despontando em alta nas rodas internacionais. Que futebol, samba e caipirinha, que nada, a gringalhada está descobrindo o que há muito já é preferência nacional. Aquilo que a mulata globeleza no mês de fevereiro remexe com malemolência; aquela palavrinha que recorrentemente escutamos nos funks e axés; aquilo que as suculentas páginas da Playboy da Mulher-Melancia estampam em 121 cm de pura saúde. Que me perdoem as “firang” estrangeiras, mas nisso nossas mulheres são au concour (desculpem mais uma vez o trocadilho)


Por certo que nossa maior riqueza já era conhecida de muitos que por essas lânguidas paragens tropicais passaram e tão logo cuidaram de não sair mais, afinal "não existe pecado do lado de baixo do Equador", todavia nunca havia sido tão falada, alardeada, propagada, fotografada, exposta, vilipendiada, cobiçada pelos grandes. Trocando em miúdos: Acorda rapaziada o produto subiu de preço no mercado externo.


Longe de me orgulhar da vertiginosa valorização de nossas riquezas como todo bom e precipitado brasileiro, todo este estardalhaço de flashes, paparazzi e imprensa internacional muito me preocupa. Não quero parecer protecionista anacrônico; esquerdista radical; peronista tupiniquim; caudilhista ou bundacionista; nem vou rezar pela cartilha de Fidel, Hugo Chaves ou Evo Morales; tampouco entendo bulhufas de economia, mas caro Lula, ta na hora de defender o que é nosso. Certo é que sempre que nossos melhores produtos ganham valor no exterior se tornam mais escassos e caros para nós. Nem vamos longe, pensem aqui mesmo no Pará em nosso açaí. Antes que se tornasse frisson no país, tomávamos todos os dias e lambendo os beiços em cuias fartas, agora quase não conseguimos comprar de tão caro. Tirem o olho gordo de nossa bunda, yankkes de mierda. “O bumbum é nosso”.


De mais a mais, já estou cansado de ver nossos talentos tão jovens rifados em moeda estrangeira como carne nova em açougue de quinta. Kaká, Robinho, Pato. Que primeiro brilhem e mostrem todo o seu talento aos olhos nacionais antes que corrompidos pelo american way. Brincadeiras e obscenidades a parte, jovem Mayara, parabéns, continue se destacando não só pela sua exultante beleza que inclina o pescoço dos poderosos, mas também por seu trabalho social na favela em que mora. O que não gostaria mesmo era de amanhã vê-la como tantas outras meninas igualmente belas e pobres que migraram sem destino em busca de um futuro melhor e tenha que abrir as páginas de Gabriela para, citando Jorge Amado, dizer: “o que fizeste sultão de minha alegre menina?”

quinta-feira, 2 de julho de 2009

DO QUE SALTA AOS OLHOS

Dedicado ao convulsivo e sarcástico riso interior e a todos aqueles que saibam dele fazer uso vez por outra. "Na sua origem o riso pertence ao domínio do diabo. Existe algo de mau (as coisas de repente se revelam diferente daquilo que pareciam ser (...) o riso do diabo mostrava o absurdo" Milan Kundera, O livro do riso e do esquecimento, pg.61

Ao que salta aos olhos pouco valem as explicações. Quanto mais as justificativas inconvincentes procuram agarrar-se desesperadas à razão, como náufragos a um salva-vidas, mais se perdem em um labirinto de contradições; mais tropeçam no vazio absurdo que é a quadratura do círculo e de tão insustentáveis se tornam risíveis, burlescas. As portas estão ali escancaradas e a verdade irrompe para quem quiser ver, escandalosa, exposta, translúcida.

O que salta aos olhos sequer permite a maquiagem da desfaçatez: O sórdido não se torna digno pela simples permissividade; o feio não se revela belo com a desculpa do descompromisso com as formas; o deslumbramento com os brilhos fugazes do mundo não se transmuta em ambições nobres, como um passe de mágica, pelas lágrimas lamuriosas pranteadas em nome de uma vida cercada de privações

Não há também muito que se dizer diante do que salta aos olhos. Tampouco há pelo que jurar inocência. É isso e pronto. É o império do inexorável; equação exata; é o 2+2=4. O que dizer da marca de batom deixada na cueca? Do bafômetro apontando a embriaguês? Da barriga prenhe que desponta rotunda? O óbvio é categórico: não abre concessão às dúvidas. O melhor mesmo é calar-se à espera do beneplácito que concede o esquecimento com o passar do tempo; com o caminhar incessante das horas.

O que salta aos olhos é ferida mortal, porém imediata e “aliviante”. Enquanto os indícios são doenças que se arrastam sem um diagnóstico preciso até que cheguem a um estágio terminal, a prova cabal, ao revés é letal; é a morte não anunciada; é o acidente fatal; é o tiro de misericórdia que revela a aviltante natureza humana de uma só vez e em toda plenitude de sua repugnância. Antes a dolorosa convicção que o espicaçar tormentoso da dúvida. Antes a desesperança abrupta e peremptória que o veneno da persistência contumaz.

Ah, enxugue as lágrimas espúrias que tens derramado pelos mortos, o que os olhos destes viram não podem mais testemunhar; não desperdice rouge e blanche tentando cobrir as manchas de seu passado oculto; não aumente o volume das músicas dos anos 80 de seu MP3 ao máximo, mesmo que as vozes se calem, os olhos vêem,os olhos vêem, os olhos vêem. Não, não hei de tecer aqui considerações aprofundadas do que salta e do que não salta aos meus olhos, tampouco cabem lamentosou imprecações. Se d’antes as coisas não saltavam tanto era apenas porque a visão andava um tanto quanto embaçada com a poeira do mundo. Não há retórica capaz de tornar verossímil o rocambolesco. De Munchausen erguendo-se do pântano puxando os próprios cabelos, cabe-nos apenas rir, quá, qua, rá, quá.

sábado, 27 de junho de 2009

AI QUE VIDA!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Para poetisa piauiense Ana Patrícia Rameiro.


Não sei dizer se estou apaixonado. Confesso que nem procuro mais perder meu tempo divagando sobre turbilhões de emoções ocultas e intangíveis, tampouco ando debruçado em questões vãs e estéreis como a definição de sentimentos ou a equação dialética do amor. Definir significa limitar, dividir. Ela me soma, me expande, me preenche. Só sei dizer que aquela ânsia angustiante que me tomava, com ela, se esvaiu; que o peso das horas insones não me causa mais medo e dor; que o coração agora de tão tranqüilo esqueceu-se de pulsar dentro do peito como d'antes: locomotiva frenética, palpitante, descompassada. Para onde escoaram as ásperas e preciosas doses de veneno destiladas de um mosto de tantas mágoas? Há mágica tão poderosa capaz de sossegar a aflição das almas inquietas como a mágica sutil dos dedos de sua mão procurando os meus? Ah! Só mesmo os raios do Corisco para calcinar as armaduras e couraças forjadas por mim a ferro e a fogo.

Primeiro de Março: é dos pântanos putrefatos que nasce a flor mais sagrada e bela. E se ainda vez por outra me perco olhando pra trás, faço apenas para constatar a superficialidade pueril das pessoas, esmagadas diante de sua simplicidade. Sei também que quando me dou conta, entre um cigarro e outro, já estou, piegas, arranjando-lhe apelidos carinhosos no diminutivo ou formulando frases tolas que lhe mando pelo celular, tal qual um adolescente embevecido. Quando ela se vai, deixando minha cama vazia, me dói, mas é dor calma, sossegada, dor boa. Agora, as noites dos bares deram lugar a pizzas e fanta laranja. A Caio Fernando Abreu, Glauber Rocha e Thiago de Mello. Meus finais-de-tarde de Junho repousam estirando sua lassidão em redes tépidas e ociosas com ela enlaçada a mim, lânguida feito um bicho-preguiça. Por que as palavras soam com tanta poesia no seu sotaque? Por que as sílabas dançam com mais acento, cadência e ritmo em sua boca? Por que o mundo fica mais terno e acolhedor entre suas pernas? Desconfio que só se possa poetizar em piauiês.




sexta-feira, 26 de junho de 2009

O INFERO ASTRAL PARAENSE

Texto publicado em O LIBERAL no dia 04/07/2009

O Estado do Pará vive momento ímpar. Neste último domingo a imprensa divulgou, com base nos dados do IBGE, que compomos 4,1% do time de analfabetos de todo o País. Grosso modo, isto representa cerca de quase 56 mil papa-chibés que sequer sabem escrever o próprio nome, isto sem contar os que mal conseguem interpretar um texto. A coisa anda preta. Trocando em miúdos, somados Mangueirões inteiros lotados em uma final de Ré-Pá, acrescentados aí mais alguns arrastões do boi Pavulagem e festas e mais festas de aparelhagens abarrotadas de gente, chegamos próximo desta espantosa cifra. Exageros à parte, quase o povo que acompanha o Círio. Se não há nada que se possa fazer, então que pelo menos brindemos com uma cervejinha gelada pra aliviar este calor de Junho. E por falar em cerveja, após 1 ano de Lei Seca, alguém tem um palpite de qual a única região que não diminuiu em nada o índice de mortes no trânsito? Ao contrário do resto do País, o estado, guiando na contramão, ainda dobrou o número de mortes, de junho ano passado até março deste ano. Parece que esse negócio de “amigo da vez” não teve lá muita vez na terra da Cerpinha. Amigo da vez por aqui, é tão-só o próximo a ser atendido em uma fila da Big-Ben. “Você tem cartão amigo?”. Era só o que nos faltava. Agora, além de pedófilos, amargamos a pecha de burros e cachaceiros. Pior.......... (como se diz aqui pela terrinha)

Se é um consolo para os infelizes ter um companheiro de desventura, pelo visto o infortúnio não nadou até o lado de lá do Rio Amazonas. Nossos vizinhos, jogando água em nosso açaí- e olha que água atualmente não lhes falta- não só nos passaram a perna e levaram a Copa por conta de uma simples Coca-Cola, como já corre o boato que estamos prestes a perder nosso mais nobre posto de “porta de entrada da Amazônia” para eles. E essa ainda, ai que vida!!!!

Mas isto é só mais uma chuva na terra das chuvas, estamos apenas em período de vacas-magras. Não, é melhor não falarmos nem em vacas e nem em bois, afinal, nosso boi-pirata, conforme denominação dada pelo Ministro Minc, também não anda lá muito em alta nos últimos tempos.

Mas não vamos aqui debulhar um rosário de lamentações, nem tudo são misérias no nosso Estado. O que é isso!!! Se não podemos negar que nossa educação anda decadente; nossos PSMs andam às favas e sem médicos; nossos postos de saúde andam desabando; nossa Santa Casa continua macabra e assombrada; que não há cumprimento de mandados judiciais de reintegração de posse e que não podemos ao menos sacar dinheiro no banco sem sermos vítimas de seqüestro-relâmpago podemos sim nos orgulhar do fato de que grande parte dessa turba de 4,1% anda impecavelmente trajada com alinho, ostentando garbosas fardas verdinhas e viçosas, tal qual nossas mangueiras. Somos pobres, porém limpinhos. Ora, e esta não seria uma das vantagens de termos uma mulher no governo? Pará: terra de direitos, anuncia a propaganda.

Não, não adianta negar. É melhor não cobrir com panos quentes o que salta aos olhos, dou-me por vencido. Não estamos lá em época muito boa mesmo, devo admitir. Conspiração cósmica, mandinga da braba, urucubaca, olho gordo, Inferno astral, sei lá!!!! O certo é que a bruxa anda à solta. Oxalá, passaremos mais esta chuva, tenho certeza, mas por enquanto o melhor mesmo é ficar em casa e se possível aproveitar as festas do mês e tomar um bom banho-de-cheiro do Ver-o-Peso para espantar esta má-sorte que teima em nos perseguir. O negócio parece andar tão mal pro nosso lado que agora até mesmo quando paraense tenta andar na linha vem o trem e passa por cima........e por ai vai.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

OXÍMORO II, O RETORNO

Teu ódio amoroso ou meu odiável amor?Tuas mentiras sinceras ou minhas verdades mentirosas?Tua estúpida sensatez ou minha lúcida estupidez?Tua felicidade desditosa ou minha triste felicidade?Tua constante inconstância ou minha inconstante constância?Tua compaixão egoísta ou meu egoísmo compassivo?Tua suavidade pungente ou minha agressiva suavidade?Tua promíscua fidelidade ou minha leal infidelidade ?Tua superficialidade profunda ou minha profundidade pueril ?Tua segurança instável ou minha instabilidade segura?Quem venceu esta luta passiva? Não temo dizer: apenas o oxímoroNo congruente paradoxo daqueles instantes eternos

sábado, 23 de maio de 2009

O OXÍMORO

Neste post resolvi escrever sobre algo no mínimo inusitado: o oxímoro. Calma, não vou falar de nenhum remédio pra hemorróida ou queda de cabelo. Não apostem em dizer que é um elemento da tabela periódica que você não lembra porque não conseguiu escrever na cola da prova de química, nem tampouco de um ponto da mulher que você sempre procurou e nunca teve a felicidade de encontrar. Pois bem, oxímero, nada mais é que uma figura de linguagem que a tia Chica do primário não nos ensinou e nem caiu em nossas provas do vestibular. É uma expressão onde convivem dois termos antagônicos, como "amigo desleal". Ora, se é amigo não poderia ser desleal.Trocando em miúdos, é uma espécie de paradoxo verbal, de onde se extrai um terceiro significado. É mais ou menos assim: lembram da música do Cazuza que dizia “mentiras sinceras me interessam”? Ou do Simon e Garfunkel “o sons do silêncio”? . Ou ainda aquela do Lulu “silenciosamente eu te falo com paixão”? Talvez aquela do Beto Guedes “como encontrar a chave do teu riso sério”?. Para não me acusarem de apenas citar músicas, o que não vejo mal algum, lembro-me da frase de Milan Kundera " o peso de uma insustentável leveza" de seu livro " a insustentável leveza do ser". Apresento-lhes, para os que não o conheciam, o tal de oxímoro. Por que resolvi escrever sobre oxímeros?
Ainda outro dia li na Net um comentário que aos meus olhos pareceu-me réplica, senão ingênua no mínimo precipitada, a um antigo comentário meu. fiquei com aquela vontadezinha impulsiva de responder que toma todo bom ariano vez por outra. Mentalmente redigi a resposta “ Isto é apenas uma vitória de Pirro”. Tá,ta,ta. Vitória de Pirro é uma expressão literária que se usa para designar uma vitória que, entre mortos e feridos, ninguém ganha, uma vitória perdida, ou seja, um oxímoro. Refleti melhor e resolvi ficar calado. Até porque ele não entenderia nada. Diria "nada haver"(sic). Há coisas que não precisam de respostas, ao menos não aquelas escritas ou faladas. Mas, não se enganem, foi apenas um silêncio eloqüente................ops, lá estamos nós novamente diante do oxímoro.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A GRIPE DO PORCO


Depois da estréia dos filmes “X-MAN” e “WOLVERINE”, parece ter virado moda esta história da mutação genética. Primeiro foi o surgimento da gripe aviária e agora parece ter chegado a vez do coitado do porco pagar o pato. Retificando, o filme “WOLVERINE” sequer estreou nas telonas, foi vítima da pirática “gripe chinesa”, epidemia que até os dias atuais não encontrou cura adequada.
O certo é que a temerosa gripe suína parece ter sido uma mutação do vírus H1N1, nome que lembra mais um robô da trilogia de Guerra nas Estrelas que propriamente um vírus, cuja procedência até então só havia sido encontrada nos porcos. Sabe-se lá porque, algum vírus “espírito de porco” resolveu atacar nossos hermanos cucarachas.
A bem da verdade, já não se sabe ao certo se foram os porcos que contaminaram os mexicanos ou se os mexicanos que contaminaram os porcos, mas o que podemos afirmar é que dos 31 casos de óbito pela gripe até então registrados, 29 são mexicanos. Não sejamos injustos, o terrível vírus também visitou as terras do Tio Sam e matou 2 pessoas: a primeira foi um bebê mexicano e a outra foi uma americana chamada “ MARIA DOLORES DE LA CONCEICION”.
Os mais conspiracionistas crêem que o vírus teria sido uma arma biológica criada no antigo governo nazi-fascista de Bush, que tinha como objetivo ser usada contra seus arqui-inimigos Hugo Chávez e Fidel e testada primeiramente em seus vizinhos mexicanos, tal qual a bomba atômica no ano 1944 no Novo México. O nome semelhante não seria mera coincidência.
Exageros à parte, o que se pode afirmar é que em pouco tempo o pânico tomou conta do mundo. O governo egípcio, sequer pestanejou em mandar sacrificar 300 mil porcos. Na vitória do Palmeiras sobre o Sport, ontem, a torcida calada e apavorada já não entoava seu habitual grito de guerra “ E DALI PORCO, E DALI PORCO, OLÊ,OLÊ,OLÊ”.
Se esta onda de sacrifícios de suínos também virar moda o bicho vai pegar. Bastaria um Yankee ensandecido gritar em Miami “MATEM OS PORCOS MEXICANOS” para reduzir a população americana à metade.Mais uma vez George Orwell parecia antever o futuro e por conseqüência toda esta crise animal, quando escreveu em seu memorável livro A Revolução dos Bichos. “ (...) e já não se sabia mais quem era porco e quem era homem”

quinta-feira, 16 de abril de 2009

EU QUERIA TER UMA BOMBA

Composição: Cazuza




Solidão à dois de diaFaz calor, depois faz frioVocê diz "já foi" e eu concordo contigoVocê sai de perto, eu penso em suicídioMas no fundo eu nem ligoVocê sempre volta com as mesmas notíciasEu queria ter uma bombaUm flit paralisante qualquerPra poder me livrarDo prático efeitoDas tuas frases feitasDas tuas noites perfeitasSolidão à dois de diaFaz calor, depois faz frioVocê diz "já foi" e eu concordo contigoVocê sai de perto eu penso em homicídioMas no fundo eu nem ligoVocê sempre volta com as mesmas notíciasEu queria ter uma bombaUm flit paralisante qualquerPra poder te negarBem no último instanteMeu mundo que você não vêMeu sonho que você não crê

terça-feira, 24 de março de 2009

DA JANELA LATERAL


Ontem novamente espiei minha vizinha, porém desta vez foi agradavelmente diferente. Fazia tempo que não a via assim, tão bela, tão nua, tão exposta. As vezes chego a duvidar de que ela realmente não tenha conhecimento dos olhares que a violam. Confesso que não perderia horas a fio a espiá-la se desconfiasse de que em algum moment0 notara minha presença na sacada do prédio ao lado. Todo o prazer do voyerismo provém do anonimato, da violência, do estupro visual. Hei de convir, todavia, de que com a arma que carrego comigo, um binóculo de quase meio metro, notar-me não seria tarefa lá tão difícil assim, não fosse minha enorme habilidade de tornar-me invisível. Cheguei até a colocar em minha sacada um vaso com um robusto pé de figo, naturalmente não apenas para decoração do ambiente. Não me tomem por tão inescrupuloso assim, afinal quando minha vizinha apalpa os seios rotundos ao sair do banho; quando deixa cair a toalha ao se admirar no espelho; quando dança apenas de calcinha ou quando se toca ao falar ao telefone não sabe que a vejo. Aos marmanjos de plantão “quem nunca brechou a vizinha que atire a primeira luneta”. As leitoras, até perdôo que, precipitadas, me taxem de tarado, depravado a algo do gênero, mas pensem no que há de tão mal em ser admirada por um estranho? Estranho que sequer escutou o timbre de sua voz; que sequer sabe o seu nome; que sequer sabe de sua vida, mas que, contudo, pode enumerar todas as curvas e sinais espalhados pelo seu corpo. Nem venham criticar minha vida sexual, ela vai muito bem, obrigado. Voyerismo nada tem a ver com sexo.
Mas voltemos à minha vizinha. Minha vizinha tem por volta de seus 16 à 17 anos. Sei pelas formas rijas de seu corpo e pelos livros de vestibular e do paulo Coelho que lê. É morena de cabelos lisos e negros, tem rosto angelical e gosta da Britney Spears. Bom, esta última característica eu apenas deduzo em minha fantasia, pois já a flagrei dançando um ritmo semelhante só de calcinha na penumbra de seu banheiro. Já que falei em roupas íntimas, vestia sempre calcinhas de algodão com motivos infantis. Digo vestia, pois atualmente a tenho visto de renda. Ontem à noite, voltava do trabalho, ainda de terno e gravata. Servi-me de um copo de vinho que havia sobrado do domingo e fui para sacada acender um cigarro. Mal havia tirado o isqueiro do bolso e engolido minha fumaça quotidiana quando percebi que a luz da janela ao lado estava acesa. Era ela. Antes que adiante meu relato, preciso explicar que tanto meu prédio quanto o prédio ao lado possuem janelas com vidro fumê. Trocando em miúdos: de dia não se vê nada, à noite, acesas as luzes se vê absolutamente tudo.
Depressa corri tropeçando nos móveis, agarrei os binóculos, apaguei as luzes, pressuroso e voltei à sacada escondendo-me ao lado dos arbustos de meu fiel pé de figo. Não saia do banho como das outras vezes; não estava só de calcinha assistindo a TV ou lendo um livro ou mesmo dançando Britney. De roupão aberto, desfilando, deitou-se na cama. De chofre levantou e dirigiu-se ao banheiro. Pensei que havia acabado meu show particular. Ledo engano, estava apenas por começar. Logo em seguida meu celular tocou, era minha garota .Como achava que a noite já havia findado, resolvi atender. A conversa ao celular caminhava noite adentro quando ela retornou. Dei uma desculpa qualquer e desligando o celular mergulhei em minha contemplação concupiscente.
Deitou-se novamente, abriu o roupão e as pernas e delicadamente com uma pinça começou a retirar zelosamente alguns pêlos pubianos. Pensei com meus botões. Calcinha de renda preta, depilação dos pêlos pubianos “ahhhhhhhhhhh, essa juventude, tão nova e já imersa nos prazeres sexuais”...............

sexta-feira, 20 de março de 2009

O SENADO E SUAS MIRABOLANTES DIRETORIAS

Assunto sempre recorrente no país são os escândalos de corrupção, desmandos e gastos abusivos do dinheiro público envolvendo nossos representantes legais. Atualmente veio à tona o tema das 181 diretorias que possui o Senado Federal, algumas, segundo as críticas, sem qualquer função aparente como a diretoria de manutenção de ar-condicionado, a diretoria de garagem e a diretoria de apoio aeroportuário ou mais conhecida como a diretoria de check in. Sem querer enveredar por inúteis divagações acerca da cidadania,democracia ,erário público e etc e tal, ouso discordar dos tablóides que veicularam a notícia e de seus críticos de plantão.
Em primeiro lugar cumpre argumentar que nossos senadores provêm das mais variadas classes e camadas que compõem a sociedade brasileira. Conhecimentos técnicos não lhes são exigíveis, mas somente o político. Como lidar com aparelhos tão sofisticados como um ar-condicionado sem o risco de com o uso prolongado danificá-lo?
Ademais, pensemos que 13% dos membros do Senado Federal são senadoras, ora, como estacionar seus veículos sem a ajuda de um diretor e 2 flanelinhas assessores?
Por último, é cediço que os senadores precisam retornar constantemente às suas bases políticas, quais sejam, os Estados-Membros, a fim de fortalecer seu apoio político e de conhecer as realidades e necessidades locais. Pergunta-se, não é compreensivo, sejamos justos, que após longo período longe de Brasília o senador esqueça-se qual é o portão de embarque e, consequentemente, necessite de um diretor que o guie?
Creio que por conta de injustificadas e severas críticas viu-se o Senado forçado a caminhar na contramão da história, extinguindo mais de 50 diretorias e exonerando ciosos e leais diretores como forma de aplacar a fome da mídia.
Eu, do meu lado, tenho algumas sugestões de novas diretorias que poderiam ser criadas, por exemplo: " A DIRETORIA DE MODA" (para indicar aos senadores que algumas gravatas não combinam com ternos xadrez); " A DIRETORIA DE DISCUSSÕES EM PLENÁRIA "(para lembrar ao senador que antes de xingar outro senador precisa chamá-lo de Vossa Excelência), e por fim a mais importante, "A DIRETORIA DE DEFESA DAS OUTRAS DIRETORIAS ", de antemão me coloco à disposição para o cargo de diretor. Alguém ai está precisando de um cargo de assessor?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

FELIZ ANO NOVO



Feliz ano novo. Não,não me refiro ao ano novo judaico ou chinês, mas ao brasileiro mesmo. Mas já estamos no final de fevereiro, você pode argumentar perplexo. É verdade que estamos já quase no final do mês de Fevereiro, embora isso nada tenha a ver com o ano novo brasileiro. Explico: é que o ano novo, no Brasil, inicia-se tão-somente depois do carnaval, a tão esperada festa da carne. Até que chegue este licencioso período são tantas festas e feriados que nem ao menos podemos dizer que o ano teve início. É só após o espetáculo de bundas de fora, bebedeira generalizada e aquela apuração chata das escolas de samba do Rio que, de fato, podemos, de alma lavada, colocarmos a mão na massa e começarmos mais um ano de trabalho. Até então, acontece uma sensação de letargia tal qual ocorre quando nos levantamos para o trabalho sem, contudo, acordamos completamente, o que vai ocorrer só lá pelas 10 ou 11horas. Talvez isto se justifique por nossa tradição do pão e do circo. Antes do circo chegar, ficamos tão ansiosos que sequer nos empenhamos na busca eterna do pão. Ou quem sabe seja a marcha frenética e ensurdecedora dos repiques, surdos e tamborins que imprima cadência e ritmo ao resto do ano. O certo é que a partir de agora não podemos mais fazer corpo mole para o chefe no trabalho; Não há mais desculpas para nossa ressaca; Adeus à concessão que o carnaval nos dá de olharmos, sem puder ou remorso, as bundas e peitos expostos na TV. Inaugura-se um novo ano, nos despeçamos do bem-bom e nos dediquemos de corpo e alma a árdua labuta do dia-a-dia. Bem, pelo menos até que chegue a Paixão de Cristo, Tiradentes, dia do trabalho, Corpus Chisti, independência, Nossa Sra Aparecida, Finados, proclamação da república, Círio, etc........para podermos dizer, mais uma vez “feliz ano novo”.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

APENAS ALGUMAS COISAS DO PASSADO


Remexendo algumas gavetas encontrei este texto que escrevi em 04/08/2004. Na época nada ou quase nada tinha ainda de "anti-herói". Lírico, via o mundo de outra maneira. Nessa mesma época, feliz, quase casei. Também derramei rios de lágrimas sendo apresentado à dor, à angústia e à desesperança. Durante algum tempo os "sis" me atormentaram. "e se tivesse casado?"; "e se não tivesse insistido tanto?"; "e se tivesse sido uma pessoa melhor?", "se não tivesse desistido?","e se nem tivesse conhecido?" enfim. O certo é que olho para o passado hoje com muita tranquilidade, sem me arrepender tanto de erros quanto acertos, afinal tudo e todos que passsam por nós contribuem de alguma forma a sermos o que somos hoje, e isso é tudo o que temos de realmente concreto,o resto, ou seja, os "sis", estes são apenas conjecturas.Se tudo o que é sólido se desmancha no ar, imaginem o que nem isto é. Bem, na pior das hipóteses pelo menos ficou o texto.

DESTERRO

Oh! Impiedosa estátua de gelo
Vaticina o fim com zelo
Não titubeia reticente
Se sabes do vil tormento que minh’alma sente
E que não se queda saciado
Entre as grades do desterro
Apenas olha com o esmero
De quem sequer padece
Da dor pungente que não arrefece
Nem abandona seu lanhado

Oh! Orgulhosa empedernida
Não sabes que o rancor de que és parida
E uma enganosa armadilha
Porque, quanto mais alimenta sua filha
A separa de seu amado
Ah! Tua dor não vem a lume
Se sofres e só por costume
De rogar-se assaz clemente
Com os mortais incontinentes
Por suas penas desterrados.

Oh! inimiga dos amantes
Porque não torna qual d’antes?
Enternece e degela teu olhar
Perdoa a quem tens de perdoar
Invade o purgatório, como a Beatriz de Dante
E, complacente, me retira de lá.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SÓ OS IDIOTAS E AS MÃES SÃO FELIZES


15-17 "O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivar a terra. Mas o Senhor Deus avisou o homem: “Você pode comer qualquer fruta do jardim, menos a fruta da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Isso porque essa fruta abrirá os seus olhos e você ficará com a consciência despertada para o certo e o errado, para o bem e para o mal. Se comer essa fruta, você estará condenado a morrer”.

Quando era criança, era feliz e não sabia”. Quem já não escutou a frase? Invariavelmente as pessoas associam isto ao pecado, à pouca pureza ou à inocência perdida. Curiosamente tanto o pecado original, quanto o lascivo “fruto proibido” (que, sabe-se lá porque com o decorrer do tempo passou a ser confundido com a cândida e inocente maçã ) também estão ligados ao sexo. A única explicação que me vem em mente é a de que a maioria das pessoas só tem sexo na cabeça mesmo e outras, possivelmente, odeiam maçãs. Mas o que existe então de comum entre nossas infâncias e Adão? Respondo: a ignorância.
A bem da verdade a ignorância parece ser pedra de toque, peça-chave para felicidade. O bondoso Todo Poderoso, muito provavelmente, deveria ser conhecedor disto quando alertou o néscio “coma qualquer fruto, menos o fruto da árvore do conhecimento do bem e o do mal”. Aliás, se não houvesse alertado com tamanha ênfase o mais provável é que ele nunca comesse.
Conhecimento nunca é algo completamente confortável. Conhecer o mecanismo das coisas; compreender sua engrenagem; a forma com que são engendradas não é para qualquer um. Pensem se você saborearia com o mesmo entusiasmo seu prato predileto se soubesse como foi preparado naquele restaurante ou se continuaria a ser um cidadão respeitador das leis se conhecesse os reais interesses de deputados, senadores e vereadores no momento de quando as criaram.
Na infância ocorre mais ou menos algo semelhante ao jardim do Éden. Somos tão ingênuos que acreditamos em tudo que nos dizem sem sequer duvidar. Acreditamos que nascemos trazidos por cegonhas; que ganhamos presentes do papai-noel e coelhinho da páscoa; que o mundo é bom e as pessoas são boas.
Mesmo após crescidos, muitos, por covardia ou preguiça escolhem não conhecer, afinal, como dissemos, o conhecimento nunca é confortável.
Conhecer, em última análise, implica, assim como Adão, em questionar, transgredir, violar, romper com, caminhar com os próprios pés. Tanto o pecado de Adão quanto seu próprio castigo foi tão-somente um e exatamente o mesmo: conhecer como realmente as coisas são, e, reconheçamos, isto é fardo demasiadamente pesado.
Anatole France com sua crítica sempre arguta e refinada escreveu: "A ignorância é a condição necessária da felicidade dos homens, e é preciso reconhecer que as mais das vezes a satisfazem bem”. Mas não precisa ler “os deuses têm sede” para se chegar à mesma conclusão, basta perguntar a qualquer guri que assistiu ao filme “Matrix” que ele te responderá “A ignorância é uma bênção”.
Ainda outro dia morri de inveja quando encontrei um casal de amigos, felizes a mais não poder, comemorando sua estupidez. Mas não me engano: conhecimento é processo irreversível. Aberta a caixa de Pandora não há mais como fechar os olhos e retroceder aos tempos felizes e tranqüilos de alentadora ignorância tal qual o casal de amigos. É Adão, éramos felizes e não sabíamos.
A cada dia me dou mais por convencido de que a coisa é sintomática: dom da felicidade é exclusividade dos idiotas. Pelo menos dos adultos. Vou incluir nesse rol também as mães (mãe é mãe né)
Se é certo que só os idiotas são felizes, oxalá ainda nos reste ao menos alguns breves momentos de estupidez.