À amiga “carne”, texto psicografado em 10 minutos após uma ligação chorosa de meia hora.
As unhas são vaidosas, pintam-se, limpam-se, lustram-se. Quando olhamos para os dedos das mãos não notamos outra coisa senão elas ostentando sua beleza. A carne não, está ali ensimesmada, escondida entre nervos e peles sustentando nos ombros com altivez e hombridade o peso das unhas. Não lhe atrai a fatuidade e brilho ofuscante das bases nem mesmo colorido cintilante dos esmaltes.
As unhas são expansivas, se deixar crescem tanto que tão logo ocupam espaço que nem lhes cabe, sendo prudente serem podadas vez por outra. A carne, pelo contrário, sempre sabe o lugar e a importância que possui, cônscia, sequer se queixa do avanço presunçoso das unhas, apenas sorri, aquele sorriso das mães que, sem os perder de vista, vêem seus bebês correndo nas praças.
No fundo toda esta ternura provém do fato de a carne ser reconhecedora e grata à função que desempenham as unhas, pois que sem elas estaria desprotegida, exposta, triste. Sabe que precisa da firmeza de sua queratina petrificada, dura feito rocha para lhe servir de escudo contra os perigos que habitualmente passam entre os dedos.
Mas as unhas além de protetoras também sabem ferir, arranham profundamente, sendo conhecedora dos recônditos esconderijos da carne. Amiúde, ferem exatamente quem menos deveriam; quem lhe serve de apoio e sustento; quem diariamente lhe expõe o mais íntimo de suas entranhas; quem lhes esquenta quando o frio severo as tornam roxas: a própria carne. Então quem só andavam juntas se separam.
De um lado a carne exposta às intempéries, teimosa feito búfalo, sem dar os braços a torcer; de outro a unha, encravada, cortada, decapitada pelas lâminas afiadas da tesoura, torturada pelo remorso de haver ferido sua companheira.
De que vale uma sem a outra? De que vale as vigas de uma edificação sem um telhado que lhe cubra do sereno e da chuva? De que vale o escudo mais reluzente e dourado, capaz de aplacar os mais duros golpes da espada, sem a força dos braços para lhes escorar o peso?
Conquanto distantes e amuadas reconhecem o valor que representam umas as outras. Uma sabe que mesmo vaidosa, dura e por vezes violenta, precisa da afetuosa proteção da outra. A outra, por outro lado sabe, que pouco sobreviverá sozinha, apodrecerá na sarjeta ou nas lixeiras sem qualquer utilidade.
A carne, estóica, a essa hora arruma as malas rumo aos rincões do Jalapão, tem consciência que mesmo que demore, de suas entranhas brotarão outras unhas, mesmo que não iguais àquelas. As unhas ficam. Conquanto saudosas, esperam outras carnes que possam doar sua proteção.Caminham, caminham, caminham, mas sabendo que mais dia menos dia estarão umbilicalmente unidas novamente. Ora, afinal não são unha e a carne.
Verdadeiro podólogo hein Edú!
ResponderExcluirhuahauhauha
Tô brincando amigo. Olha adorei as metáforas, os trocadilhos... Simplesmente soberbo.
Sempre me impressionas, mas uma vertente tua não conhecida.
Pois é, o que é pior, ser carne ou unha? Unhas são expansivas, mas podem ser cortadas, lixadas e pintadas. Pior pra ela, porque a carne, ah! Essa está sempre lá, talvez feliz por não ser unha.
ResponderExcluirLi sua resposta, caro Cínico (sabemos que agora se chamarmos alguém de cão cínico poderá ser considerado pleonasmo?). rssss
Abraços.
A carne mandou dizer que:
ResponderExcluir1) ama essa unha teimosa, dura e enfeitada que tanto a fere e se exibe ...
2) que caíram duas lágrimas sem gosto quando esse texto foi lido pela terceira vez.
3)que está muito cansada e ocupada, mas veio mesmo assim ...
4)que "tem consciência que mesmo que demore, de suas entranhas brotarão outras unhas, mesmo que não iguais àquelas".
5) que está em paz, muito em paz, sempre em paz ...
6) que tem a leve impressão que ombridade não tem "h" ..., mas pode estar enganada. Confere?
7) que tem planos de, se der tudo certo, a gente montar um livro de letras com fotografias ... mas isso discutimos depois.
Beijos ausentes!
"É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer
ResponderExcluirÉ bom olhar pra frente, é bom nunca é igual
Olhar, beijar e ouvir, cantar um novo dia nascendo
É bom e é tão diferente
Eu não vou chorar, você não vai chorar
Você pode entender que eu não vou mais te ver
Por enquanto, sorria e saiba o que eu sei eu te amo
.
Foi tão bom e porque será
Eu não vou chorar, você não vai chorar
Ninguém precisa chorar mas eu só posso te dizer
Por enquanto, que nessa linda história os diabos são anjos".
(Dessa vez - Nando Reis)
.
éééé...
ééé...
éé...
é...
pois é...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirhombridade | s. f.
ResponderExcluirhombridade
s. f.
1. Aspecto! varonil.
2. Dignidade, nobreza de carácter!.
3. Altivez louvável.
4. Desejo de ombrear.
Ixi, Pasquale do cerrado, nessa você “se lascou”.eehheeheh. A idéia (com acento mesmo e pronto) de produzir alguma coisa juntos já não é nova. Aliás aquela história que conversamos de montar um grupo( coletivo ......)visava justamente isto, ou seja, em um futuro próximo reunir material das pessoas ( gente que não escreve e lê apenas para dar uma de Cult, olha, mamãe, leio poesia) e publicar. SE prestares bastante atenção isto não é assim tão difícil, basta olhar os textos de muitas das pessoas que acompanham nossos dois blogs, não daria um excelente livro? (“coletivo blogosfera”).
Fique com saudades de mim. Sabes onde fica o Jalapão? Tão perto e tão longe do meu coração.
ahhhhhhh, nada haver(sic) esse teu comentário........
ResponderExcluirqueria dizer alguma coisa... mas deixa pra lá...
ResponderExcluirah! a foto tá cera.
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