quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

FELIZ ANO NOVO



Feliz ano novo. Não,não me refiro ao ano novo judaico ou chinês, mas ao brasileiro mesmo. Mas já estamos no final de fevereiro, você pode argumentar perplexo. É verdade que estamos já quase no final do mês de Fevereiro, embora isso nada tenha a ver com o ano novo brasileiro. Explico: é que o ano novo, no Brasil, inicia-se tão-somente depois do carnaval, a tão esperada festa da carne. Até que chegue este licencioso período são tantas festas e feriados que nem ao menos podemos dizer que o ano teve início. É só após o espetáculo de bundas de fora, bebedeira generalizada e aquela apuração chata das escolas de samba do Rio que, de fato, podemos, de alma lavada, colocarmos a mão na massa e começarmos mais um ano de trabalho. Até então, acontece uma sensação de letargia tal qual ocorre quando nos levantamos para o trabalho sem, contudo, acordamos completamente, o que vai ocorrer só lá pelas 10 ou 11horas. Talvez isto se justifique por nossa tradição do pão e do circo. Antes do circo chegar, ficamos tão ansiosos que sequer nos empenhamos na busca eterna do pão. Ou quem sabe seja a marcha frenética e ensurdecedora dos repiques, surdos e tamborins que imprima cadência e ritmo ao resto do ano. O certo é que a partir de agora não podemos mais fazer corpo mole para o chefe no trabalho; Não há mais desculpas para nossa ressaca; Adeus à concessão que o carnaval nos dá de olharmos, sem puder ou remorso, as bundas e peitos expostos na TV. Inaugura-se um novo ano, nos despeçamos do bem-bom e nos dediquemos de corpo e alma a árdua labuta do dia-a-dia. Bem, pelo menos até que chegue a Paixão de Cristo, Tiradentes, dia do trabalho, Corpus Chisti, independência, Nossa Sra Aparecida, Finados, proclamação da república, Círio, etc........para podermos dizer, mais uma vez “feliz ano novo”.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

APENAS ALGUMAS COISAS DO PASSADO


Remexendo algumas gavetas encontrei este texto que escrevi em 04/08/2004. Na época nada ou quase nada tinha ainda de "anti-herói". Lírico, via o mundo de outra maneira. Nessa mesma época, feliz, quase casei. Também derramei rios de lágrimas sendo apresentado à dor, à angústia e à desesperança. Durante algum tempo os "sis" me atormentaram. "e se tivesse casado?"; "e se não tivesse insistido tanto?"; "e se tivesse sido uma pessoa melhor?", "se não tivesse desistido?","e se nem tivesse conhecido?" enfim. O certo é que olho para o passado hoje com muita tranquilidade, sem me arrepender tanto de erros quanto acertos, afinal tudo e todos que passsam por nós contribuem de alguma forma a sermos o que somos hoje, e isso é tudo o que temos de realmente concreto,o resto, ou seja, os "sis", estes são apenas conjecturas.Se tudo o que é sólido se desmancha no ar, imaginem o que nem isto é. Bem, na pior das hipóteses pelo menos ficou o texto.

DESTERRO

Oh! Impiedosa estátua de gelo
Vaticina o fim com zelo
Não titubeia reticente
Se sabes do vil tormento que minh’alma sente
E que não se queda saciado
Entre as grades do desterro
Apenas olha com o esmero
De quem sequer padece
Da dor pungente que não arrefece
Nem abandona seu lanhado

Oh! Orgulhosa empedernida
Não sabes que o rancor de que és parida
E uma enganosa armadilha
Porque, quanto mais alimenta sua filha
A separa de seu amado
Ah! Tua dor não vem a lume
Se sofres e só por costume
De rogar-se assaz clemente
Com os mortais incontinentes
Por suas penas desterrados.

Oh! inimiga dos amantes
Porque não torna qual d’antes?
Enternece e degela teu olhar
Perdoa a quem tens de perdoar
Invade o purgatório, como a Beatriz de Dante
E, complacente, me retira de lá.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SÓ OS IDIOTAS E AS MÃES SÃO FELIZES


15-17 "O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivar a terra. Mas o Senhor Deus avisou o homem: “Você pode comer qualquer fruta do jardim, menos a fruta da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Isso porque essa fruta abrirá os seus olhos e você ficará com a consciência despertada para o certo e o errado, para o bem e para o mal. Se comer essa fruta, você estará condenado a morrer”.

Quando era criança, era feliz e não sabia”. Quem já não escutou a frase? Invariavelmente as pessoas associam isto ao pecado, à pouca pureza ou à inocência perdida. Curiosamente tanto o pecado original, quanto o lascivo “fruto proibido” (que, sabe-se lá porque com o decorrer do tempo passou a ser confundido com a cândida e inocente maçã ) também estão ligados ao sexo. A única explicação que me vem em mente é a de que a maioria das pessoas só tem sexo na cabeça mesmo e outras, possivelmente, odeiam maçãs. Mas o que existe então de comum entre nossas infâncias e Adão? Respondo: a ignorância.
A bem da verdade a ignorância parece ser pedra de toque, peça-chave para felicidade. O bondoso Todo Poderoso, muito provavelmente, deveria ser conhecedor disto quando alertou o néscio “coma qualquer fruto, menos o fruto da árvore do conhecimento do bem e o do mal”. Aliás, se não houvesse alertado com tamanha ênfase o mais provável é que ele nunca comesse.
Conhecimento nunca é algo completamente confortável. Conhecer o mecanismo das coisas; compreender sua engrenagem; a forma com que são engendradas não é para qualquer um. Pensem se você saborearia com o mesmo entusiasmo seu prato predileto se soubesse como foi preparado naquele restaurante ou se continuaria a ser um cidadão respeitador das leis se conhecesse os reais interesses de deputados, senadores e vereadores no momento de quando as criaram.
Na infância ocorre mais ou menos algo semelhante ao jardim do Éden. Somos tão ingênuos que acreditamos em tudo que nos dizem sem sequer duvidar. Acreditamos que nascemos trazidos por cegonhas; que ganhamos presentes do papai-noel e coelhinho da páscoa; que o mundo é bom e as pessoas são boas.
Mesmo após crescidos, muitos, por covardia ou preguiça escolhem não conhecer, afinal, como dissemos, o conhecimento nunca é confortável.
Conhecer, em última análise, implica, assim como Adão, em questionar, transgredir, violar, romper com, caminhar com os próprios pés. Tanto o pecado de Adão quanto seu próprio castigo foi tão-somente um e exatamente o mesmo: conhecer como realmente as coisas são, e, reconheçamos, isto é fardo demasiadamente pesado.
Anatole France com sua crítica sempre arguta e refinada escreveu: "A ignorância é a condição necessária da felicidade dos homens, e é preciso reconhecer que as mais das vezes a satisfazem bem”. Mas não precisa ler “os deuses têm sede” para se chegar à mesma conclusão, basta perguntar a qualquer guri que assistiu ao filme “Matrix” que ele te responderá “A ignorância é uma bênção”.
Ainda outro dia morri de inveja quando encontrei um casal de amigos, felizes a mais não poder, comemorando sua estupidez. Mas não me engano: conhecimento é processo irreversível. Aberta a caixa de Pandora não há mais como fechar os olhos e retroceder aos tempos felizes e tranqüilos de alentadora ignorância tal qual o casal de amigos. É Adão, éramos felizes e não sabíamos.
A cada dia me dou mais por convencido de que a coisa é sintomática: dom da felicidade é exclusividade dos idiotas. Pelo menos dos adultos. Vou incluir nesse rol também as mães (mãe é mãe né)
Se é certo que só os idiotas são felizes, oxalá ainda nos reste ao menos alguns breves momentos de estupidez.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

ARISTÓTELES E MINHAS VELEIDADES

Quem melhor tratou sobre Ética, provavelmente tenha sido Aristóteles. Em obra em homenagem ao pai, Nicômaco, expôs com clareza as bases de seu pensamento. Para o filósofo macedônio, grosso modo, a Ética não deveria ser compreendida em razão de si mesma, todavia como instrumento cuja função é a felicidade do homem. A Ética aristotélica não se ocupa do que é inato, mas das ações repetidas, hábitos, sejam eles vícios ou virtudes. Virtude, para o autor, seria o equilíbrio racional que procura o meio termo entre as características humanas. Vício, por sua vez, são as faltas e os excessos originadas das paixões.

Ah, Sr.Aristóteles! Como anti-herói que sou, ajo duas vezes antes de pensar. Antes que me dê conta a mão já se ergue; o punho fremi ; o brado troa a palavra ressoa, mas pago o preço, pois tão logo o coração arrefece, sigo só, feroz, faminto, cego e sem sossego, cedo, esmoreço. Meu instinto, caudilho, reina tirano; meu espírito soberbo, vara madrugadas saciando incontinências e brindando aos desenganos. Os excessos que me tecem as Parcas não são lá muito maiores que as faltas que me compadecem. Se paixões são veneno, é, sábio filósofo, diz-me então: o que faço deste veneno,vício ou veleidade, que me atordoa e ao mesmo tempo me apetece?