sexta-feira, 31 de julho de 2009

ÚLTIMAS IMPRECAÇÕES DE UM ARIANO PUTO DA VIDA

, Alguem por favor me emprestaria um litro de álcool Tubarão e um fósforo?

Não pense reconhecer em minhas palavras qualquer traço daquele sentimento vulgar que inspira àqueles que desdenham o que não lhes pertence mais. E se te desejo que naufragues no marasmo de uma vida sem sentido e cercada de frustrações é apenas porque isto me parece o rumo natural das coisas.

Não julgues também confundir este meu desejo secreto com a obviedade das lágrimas piegas que choram os desconsolados pelo amor não correspondido. E se ainda dou-me ao trabalho de rogar estas últimas imprecações extemporâneas é tão-só porque minha pena segue ferina e afiada e minha voz, há muito abafada na garganta, não vê a hora de sair, ganhar o mundo e tão-somente por isso elegi você como tema.

Tampouco confunda minha pequena mágoa com vil despeito, orgulho ferido, ou com aquilo que Lupicínio muito bem batizou de dor-de-cotovelo. Meu cotovelo anda muito bem, obrigado. E se quando escuto “quem te viu, quem te vê” me vem o desejo de que vagues eternamente no vazio angustiante de cama em cama, como Íxion girando em sua roda, sem nunca poder dizer "eu te amo" sem que teu parceiro não perceba a falsidade de tuas palavras; ou que teu fígado seja devorado milhões de vezes pelos abutres, tal qual Prometeu ( que como tal ao nascer de cada dia tuas esperanças renasçam e sejam devoradas antes mesmo do pôr-do-sol) decorre apenas do fato de que talvez eu tenha algum ascendente em escorpião, sei lá, ou simplesmente me recuse a aplaudir os anos de teatro barato que me ofereceste. Nada mais que isto..

Por favor, não me venha dizer que esta recusa em aceitar com resignação estóica teus disparates seja devido ao fato de ainda lhe guardar qualquer resquício de amor ou por pensar em alguma tola e esperançosa reconciliação. Madame, amor e ódio só caminham juntos nos estúpidos folhetins de banca de revista ou em novelas mexicanas. Meu desejo de que te afogues em suco de graviola e que ganhe mais pelo menos 5Kg entupida de chocolate, de outra forma nada tem a ver com ódio é apenas uma espinha engasgada.]

De mais a mais, como poderia odiar-te pelo simples fato de haver me descartado como laranja chupada tão logo que encontrou quem provia teu prato com comida mais farta, isto até me polpa alguns tostões? Como poderia querer teu mal se todas as vezes que estavas exposta ao relento de uma sarjeta fétida eu te dei abrigo? Se nas vezes em que te atiravam pedras como a adúltera bíblica eu te servi de escudo? Creia-me, é apenas por gostar de comédias do tipo pastelão que rio a mais não poder quando vejo que tua máscara cai em pleno palco e que teu personagem patético de menina pobre do interior; de viúva zelosa e pudica; de Madalena arrependida, não convence nem mais as moscas.

Tenho para mim que é por gostar de filmes trash de terror, daqueles que o sangue parece espirrar nas telas e que voam membros decepados para todos os lados, que tenho um prazer quase mórbido quando me vem em mente que sabes que teu lívido pescocinho repousa debaixo de uma afiada guilhotina que balança feito pêndulo e cuja corda ameaça a todo momento partir-se bastando para tanto uma leve lufada de vento ou uma brisa qualquer.Ah! maravilhosa espada de Dâmocles. E tudo isto sem que sequer minhas mão se sujem desatando o nó( como havia te prometido). Mas, que fique novamente claro, também nisto não há traço algum de ódio.

Tanto é assim, que desnecessárias estas imprecações, agora que as leio acho tão inúteis quanto supérfluas. Bastaria cantarolar a canção que Cartola fez para filha, cujos versos encerram tudo o que aqui nem precisaria ser dito. “de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estas à beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés”. E passe mal, mas sem ressentimentos ta?!!

terça-feira, 28 de julho de 2009

COM OS OLHOS BEM "CERRADO"

Imagens do cerrado maranhense no Município de Carolina. Fotos: Eduardo Cunha

caminho para cachoeira da Pedra Caída

Cachoeira de São Romão

Cachoeira da Prata

Pau-de-arara do Sr. Raimundo


Caminho para as cachoeiras de São Romão e Prata

Singrei mares desconhecidos tingidos de amarelo ocre ladeados por enormes monumentos e templos de pedra insculpidos pelos séculos

Onde a Siriema cruza a estrada impávida com a serpente envolta ao bico e as árvores se curvam reverenciando o sol cáustico; Onde a paz solitária e atordoante do vazio profuso nos mostra quem somos.


Cortando vales lanhado por galhos de gravatás e umbus, como um retirante, percorri léguas de trilhas e chapadões no lombo de um pau-de-arara e de seu ritmo alucinante;


Que lugar mágico onde as águas cristalinas das cachoeiras escorrem escondendo as grotas ;


Que lugar idílico fora do tempo que nos faz sentir vivos.


Quis reler on the roade e comprar um jipe amarelo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

ENTRE A LOUCURA E A LUCIDEZ ENTRE A VERDADE E O ROCK INGLÊS


"A maior loucura de uma homem nesta vida é deixar-se morrer" - CERVANTES



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Neste último fim-de-semana resolvi ficar em casa e não viajar. Loquei uns filmes.......Minto, comprei um punhado de DVDs piratas para assistir. Entre vários que vi um em especial me chamou bastante atenção. Talvez nem tanto propriamente pelo filme, cuja trama achei um pouco monótona ( trata-se de uma opinião pessoal, não pretendo ser crítico da 7º arte), mas pelo tema angustiante que abordava. Se chamava “Foi apenas um sonho”, baseado no romance de Richard Yates,com Leonardo DiCáprio e Kate Winslet e dirigido pelo ganhador do Oscar. O filme narra a história de uma casal pouco convencional da década de 50, que, percebendo que caíram em uma vida vazia e sem sentido, em uma rasgo de loucura ou lucidez resolvem abandonar emprego e a estabilidade que representam o sonho americano e perseguir os desejos de quando jovens, ir morar em Paris e dedicarem-se cada qual ao que realmente lhes dava satisfação pessoal. As coisas acabam tomando outro rumo e eles, frustrados, se rendem ao que todos julgavam a decisão sensata, ou seja, o retorno à antiga vida vulgar e convencional. O curioso no filme é que a única pessoa que parece lhes apoiar em sua jornada inusitada é um louco (talvez o mais lúcido).



Este mesmo assunto só havia mexido comigo tão intensamente quando li “O clube da luta”, Chuck Palahniuk, em 2006, também adaptado ao cinema. No livro o personagem louco anarco-terrorista aborda aleatoriamente qualquer transeunte com um fuzil. Questiona sobre o trabalho que exerce e de qual gostaria realmente de exercer. Em seguida lhe toma os documentos e ameaça que retornará em 6 meses para matá-lo caso não o encontre como uma bailarina, um escritor, um astronauta, um palhaço, etc.



A questão dos dois livros ou filmes é a seguinte: quem verdadeiramente é o louco e quem é o são? Quem é sensato e quem é o imaturo? Resolvi perder algum tempo estudando a patologia para ver onde me encaixo.



O LOUCO:



O LOUCO MANSO- Loucura para um senso comum é o estado da pessoa que não consegue de maneira nenhum conviver e respeitar as regras sociais. O que se convencionou tabular como mandamentos do homem são. Louco manso é aquele que mesmo recalcitrante às convenções, não usa de qualquer artifício para atacá-las. É o estudante do último ano de Direito que resolveu largar a faculdade e vender pulseirinhas em Algodoal.



O LOUCO FURIOSO- Loucura furiosa é o estado da pessoa que de tanto lhe dizerem o que deveria seguir e de como deveria ser, enchendo-lhe com frases clichês do tipo “você deveria seguir o exemplo do seu primo, ele é alguém na vida”, tornou-se revoltado. Louco furioso é o anarco-terrorista do “clube da luta”, é o Coringa do filme Batman: o cavaleiro das trevas, que ateia fogo nos milhões roubados. Se não torrasse a bufunfa seria ladrão, mas completamente lúcido.



O LOUCO PETER PAN- Comumente confundido com a primeira das categorias de loucos, mas dela se distuingue pelo fato de todos o acusam de imaturidade. Recusa-se a crescer. Sabe que “crescer” significa tornar-se igual a todos, ou seja, são. Esta categoria vive em conflito entre viver sua vida e assumir as responsabilidades de um homem maduro. Esses são severamente bombardeados pela critica feminina.



O LOUCO DE ÚLTIMA HORA Muito comum nos dias de hoje é o louco de última hora. O louco deste gênero é o sexagenário que percebe que já não lhe resta lá muitos anos de vida e resolve assumir sua patologia. Enquanto a doença se resume ao (a) coroa freqüentar a academia não há problemas. “papai(mamãe) só está cuidando da saúde”. Depois que o(a) velho manda às favas um casamento frustrado que tolerava há mais de 30 anos e resolve torrar o vil cobre que conquistou à duras penas com o suor do ser rosto e “despirocar”, curtir a vida, ai o bicho pega. Acusam-lhe logo de senilidade.



O LOUCO EXCÊNTRICO- O louco excêntrico é aquele que percebe que louco são os outros e não ele, mas não tem “culhão”(desculpem o baixo calão) suficiente para assumir de vez e viver sua vida. Por isso apenas uma vez ou outra faz um ato de loucura (excentricidade para os outros) e retorna à sua vida normal como um cão com o rabo entre as pernas. Normalmente é o caso dos artistas.



O LOUCO DEPRESSIVO- Aquele que percebe a fatuidade e absurdo da vida e do mundo, mas se perde em questões existências e não encontra outra solução a não ser somatizar todos estes problemas. Talvez seja o caso da maioria dos que sofrem do mal do século, como o louco do filme “foi apenas um sonho”



O LOUCO MÁRTIR- É um louco como qualquer um desses que faz um enorme ato de loucura e, posteriormente, algum grupo religioso ou político atribui ao seu ato significado que possam tirar vantagem. Ex: Lady Godiva andando nua pela cidade montada em um cavalo branco. Depois criaram histórias sobre ela que supostamente o fato de andar nua de pelo montado em um cavalo branco seria um nobre ato de protesto contra os duros impostos e a intolerância que seu marido afligia aos necessitados.



O LOUCO DO ARMÁRIO- Aquele que vive disfarçado entre os sãos, mas “louco” pra ver um outro doido ao seu lado tomar coragem para lhe seguir os passos.



O LOUCO VISIONÁRIO- o louco visionário é qualquer desses tantos já narrados que de alguma forma conseguiu um bruto sucesso com a sua loucura Se dão sorte e o descobrem enquanto vivos se torna tão logo um grande cidadão respeitado perante a sociedade, um visionário. Ex: . Se passam a vida toda como loucos e após décadas de morto lhe dão valor, se tornam gênio . Ex: Kafka





O SÃO- Qualquer um que não pertença de nenhuma forma a pelo menos uma dessas categorias, que frustrado por medo ou convenção não faz o que quer.



Faço minhas as palavras de Raul (outro louco) “ eu vou fazer o que eu gosto”





“Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor



Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz (BALADA DE UM LOUCO-RITA LEE E ARNALDO BATISTA)



domingo, 19 de julho de 2009

LOW PROFILE: NEM PENSAR



Se sou Anti-Herói, sou apenas por desencanto. Também já fui lírico apaixonado, humanista convicto, idealista convincente.

Cínico e cretino,vou confessar, isto sou desde que me entendi por gente.

Anarquista talvez por deformação política ou porque me agrade o cheiro da desobediência;da insubordinação fortuita; do gosto de sangue na boca.

Tenho um geniozinho peculiar: como diria Chico, ajo duas vezes antes de pensar ao mesmo que falo muito e faço pouco, contraditório, inconsistente, mais um ariano cabeça oca.

Como amante, mediano,por vezes egoísta e afoito, porém afetuoso,esforçado.Trago comigo um pouco do gosto de toda mulher que amei. Mesmo sendo fumante compulsivo não lembro haver deixado nenhuma na mão por........digamos "displicência".

Artista, apenas por muita presunção ou insistência, instrução nunca tive, aulas nunca tomei, talento não me veio de berço.

Ébrio é por contumácia, pândego de carteirinha. Boêmio certamente é pela vadiagem ter apreço.

Libertino e imoral, não saberia dizer, veleidade ou descrença, lascivo vem logo como conseqüência.

Mentiroso é só mesmo por necessidade ou pela profissão exigir-me isto em abundância.Cafajeste e canalha, como bom mentiroso, digo que é por força da circunstância.

Niilista por convicção, porém engajado ; sarcástico, mas um espirituoso inveterado; por vezes sensato,por vezes celerado.

Temperamental e prepotente, sou rude copiosamente.

Minhas rimas são pobres, minhas frases são clichês,

Aspirante a escritor, não tenho dúvidas, por comiseração e paciência alheia, apenas e tão-somente.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A UNHA E A CARNE- CRôNICAS DE UMA DESPEDIDA





À amiga “carne”, texto psicografado em 10 minutos após uma ligação chorosa de meia hora.



As unhas são vaidosas, pintam-se, limpam-se, lustram-se. Quando olhamos para os dedos das mãos não notamos outra coisa senão elas ostentando sua beleza. A carne não, está ali ensimesmada, escondida entre nervos e peles sustentando nos ombros com altivez e hombridade o peso das unhas. Não lhe atrai a fatuidade e brilho ofuscante das bases nem mesmo colorido cintilante dos esmaltes.

As unhas são expansivas, se deixar crescem tanto que tão logo ocupam espaço que nem lhes cabe, sendo prudente serem podadas vez por outra. A carne, pelo contrário, sempre sabe o lugar e a importância que possui, cônscia, sequer se queixa do avanço presunçoso das unhas, apenas sorri, aquele sorriso das mães que, sem os perder de vista, vêem seus bebês correndo nas praças.

No fundo toda esta ternura provém do fato de a carne ser reconhecedora e grata à função que desempenham as unhas, pois que sem elas estaria desprotegida, exposta, triste. Sabe que precisa da firmeza de sua queratina petrificada, dura feito rocha para lhe servir de escudo contra os perigos que habitualmente passam entre os dedos.

Mas as unhas além de protetoras também sabem ferir, arranham profundamente, sendo conhecedora dos recônditos esconderijos da carne. Amiúde, ferem exatamente quem menos deveriam; quem lhe serve de apoio e sustento; quem diariamente lhe expõe o mais íntimo de suas entranhas; quem lhes esquenta quando o frio severo as tornam roxas: a própria carne. Então quem só andavam juntas se separam.

De um lado a carne exposta às intempéries, teimosa feito búfalo, sem dar os braços a torcer; de outro a unha, encravada, cortada, decapitada pelas lâminas afiadas da tesoura, torturada pelo remorso de haver ferido sua companheira.

De que vale uma sem a outra? De que vale as vigas de uma edificação sem um telhado que lhe cubra do sereno e da chuva? De que vale o escudo mais reluzente e dourado, capaz de aplacar os mais duros golpes da espada, sem a força dos braços para lhes escorar o peso?

Conquanto distantes e amuadas reconhecem o valor que representam umas as outras. Uma sabe que mesmo vaidosa, dura e por vezes violenta, precisa da afetuosa proteção da outra. A outra, por outro lado sabe, que pouco sobreviverá sozinha, apodrecerá na sarjeta ou nas lixeiras sem qualquer utilidade.

A carne, estóica, a essa hora arruma as malas rumo aos rincões do Jalapão, tem consciência que mesmo que demore, de suas entranhas brotarão outras unhas, mesmo que não iguais àquelas. As unhas ficam. Conquanto saudosas, esperam outras carnes que possam doar sua proteção.Caminham, caminham, caminham, mas sabendo que mais dia menos dia estarão umbilicalmente unidas novamente. Ora, afinal não são unha e a carne.


ASS. AMIGA "UNHA"





sábado, 11 de julho de 2009

A INVESTIDA ESTRANGEIRA E O FUNDO NACIONAL



À beleza hipnótica da jovem Mayara, capaz de curvar até mesmo os mais poderosos do mundo. Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor.



O Brasil se reuniu nesta última sexta feira, dia 10, em Áquila na Itália com a cúpula do G-8, Grupo que reúne os sete países mais ricos do mundo e a Rússia, e aproveitou a ocasião para apresentar seu produto de maior aceitação e popularidade interna: a G-nética curvilínea da mulher brasileira.


Conquanto a pauta de discussão da reunião não girasse inicialmente em torno deste tema, digamos: tão interessante, não houve marmanjo nela presente que, tal qual um operário de construção civil, não voltasse os olhos cobiçosos e concupiscentes à “emergência” dos países emergentes, em especial os atributos da “emergência” brasileira, já tão conhecida por nós.


De fato, nossa adolescente carente de 17 anos, enviada brasileira do Unicef- Fundo Das Nações Unidas para Infância, representando o fundo de maneira excepcional, não deixou nada a desejar, ou melhor, tudo a desejar, tanto assim que depois de “secada” ostensivamente pelo Mandela de fast-food, correu de manchete em manchete nos principais jornais do mundo, todos querendo saber “o que é que a baiana tem”.


Gringos embasbacados, Paparazzi desnorteados, primeiras-damas abundantemente furibundas (desculpem o trocadilho infame) e o nosso produto, agora tipo exportação, despontando em alta nas rodas internacionais. Que futebol, samba e caipirinha, que nada, a gringalhada está descobrindo o que há muito já é preferência nacional. Aquilo que a mulata globeleza no mês de fevereiro remexe com malemolência; aquela palavrinha que recorrentemente escutamos nos funks e axés; aquilo que as suculentas páginas da Playboy da Mulher-Melancia estampam em 121 cm de pura saúde. Que me perdoem as “firang” estrangeiras, mas nisso nossas mulheres são au concour (desculpem mais uma vez o trocadilho)


Por certo que nossa maior riqueza já era conhecida de muitos que por essas lânguidas paragens tropicais passaram e tão logo cuidaram de não sair mais, afinal "não existe pecado do lado de baixo do Equador", todavia nunca havia sido tão falada, alardeada, propagada, fotografada, exposta, vilipendiada, cobiçada pelos grandes. Trocando em miúdos: Acorda rapaziada o produto subiu de preço no mercado externo.


Longe de me orgulhar da vertiginosa valorização de nossas riquezas como todo bom e precipitado brasileiro, todo este estardalhaço de flashes, paparazzi e imprensa internacional muito me preocupa. Não quero parecer protecionista anacrônico; esquerdista radical; peronista tupiniquim; caudilhista ou bundacionista; nem vou rezar pela cartilha de Fidel, Hugo Chaves ou Evo Morales; tampouco entendo bulhufas de economia, mas caro Lula, ta na hora de defender o que é nosso. Certo é que sempre que nossos melhores produtos ganham valor no exterior se tornam mais escassos e caros para nós. Nem vamos longe, pensem aqui mesmo no Pará em nosso açaí. Antes que se tornasse frisson no país, tomávamos todos os dias e lambendo os beiços em cuias fartas, agora quase não conseguimos comprar de tão caro. Tirem o olho gordo de nossa bunda, yankkes de mierda. “O bumbum é nosso”.


De mais a mais, já estou cansado de ver nossos talentos tão jovens rifados em moeda estrangeira como carne nova em açougue de quinta. Kaká, Robinho, Pato. Que primeiro brilhem e mostrem todo o seu talento aos olhos nacionais antes que corrompidos pelo american way. Brincadeiras e obscenidades a parte, jovem Mayara, parabéns, continue se destacando não só pela sua exultante beleza que inclina o pescoço dos poderosos, mas também por seu trabalho social na favela em que mora. O que não gostaria mesmo era de amanhã vê-la como tantas outras meninas igualmente belas e pobres que migraram sem destino em busca de um futuro melhor e tenha que abrir as páginas de Gabriela para, citando Jorge Amado, dizer: “o que fizeste sultão de minha alegre menina?”

quinta-feira, 2 de julho de 2009

DO QUE SALTA AOS OLHOS

Dedicado ao convulsivo e sarcástico riso interior e a todos aqueles que saibam dele fazer uso vez por outra. "Na sua origem o riso pertence ao domínio do diabo. Existe algo de mau (as coisas de repente se revelam diferente daquilo que pareciam ser (...) o riso do diabo mostrava o absurdo" Milan Kundera, O livro do riso e do esquecimento, pg.61

Ao que salta aos olhos pouco valem as explicações. Quanto mais as justificativas inconvincentes procuram agarrar-se desesperadas à razão, como náufragos a um salva-vidas, mais se perdem em um labirinto de contradições; mais tropeçam no vazio absurdo que é a quadratura do círculo e de tão insustentáveis se tornam risíveis, burlescas. As portas estão ali escancaradas e a verdade irrompe para quem quiser ver, escandalosa, exposta, translúcida.

O que salta aos olhos sequer permite a maquiagem da desfaçatez: O sórdido não se torna digno pela simples permissividade; o feio não se revela belo com a desculpa do descompromisso com as formas; o deslumbramento com os brilhos fugazes do mundo não se transmuta em ambições nobres, como um passe de mágica, pelas lágrimas lamuriosas pranteadas em nome de uma vida cercada de privações

Não há também muito que se dizer diante do que salta aos olhos. Tampouco há pelo que jurar inocência. É isso e pronto. É o império do inexorável; equação exata; é o 2+2=4. O que dizer da marca de batom deixada na cueca? Do bafômetro apontando a embriaguês? Da barriga prenhe que desponta rotunda? O óbvio é categórico: não abre concessão às dúvidas. O melhor mesmo é calar-se à espera do beneplácito que concede o esquecimento com o passar do tempo; com o caminhar incessante das horas.

O que salta aos olhos é ferida mortal, porém imediata e “aliviante”. Enquanto os indícios são doenças que se arrastam sem um diagnóstico preciso até que cheguem a um estágio terminal, a prova cabal, ao revés é letal; é a morte não anunciada; é o acidente fatal; é o tiro de misericórdia que revela a aviltante natureza humana de uma só vez e em toda plenitude de sua repugnância. Antes a dolorosa convicção que o espicaçar tormentoso da dúvida. Antes a desesperança abrupta e peremptória que o veneno da persistência contumaz.

Ah, enxugue as lágrimas espúrias que tens derramado pelos mortos, o que os olhos destes viram não podem mais testemunhar; não desperdice rouge e blanche tentando cobrir as manchas de seu passado oculto; não aumente o volume das músicas dos anos 80 de seu MP3 ao máximo, mesmo que as vozes se calem, os olhos vêem,os olhos vêem, os olhos vêem. Não, não hei de tecer aqui considerações aprofundadas do que salta e do que não salta aos meus olhos, tampouco cabem lamentosou imprecações. Se d’antes as coisas não saltavam tanto era apenas porque a visão andava um tanto quanto embaçada com a poeira do mundo. Não há retórica capaz de tornar verossímil o rocambolesco. De Munchausen erguendo-se do pântano puxando os próprios cabelos, cabe-nos apenas rir, quá, qua, rá, quá.