sexta-feira, 7 de setembro de 2007

MUITO ALÉM DO PAÍS DAS MARAVILHAS: O LIBELO DE UM ANTI-HERÓI



Naturalmente estou bêbado, como irremediavelmente fico aos finais de semana, que para mim, costumam se iniciar lá pelas quartas-feiras.Pois bem, Bêbado, mas não naquele estágio em que os sentidos embotados transformam o mundo em uma cretina poesia nonsense. Bêbado porque provei da saliva inebriante do beijo de Baco e encontro-me extasiado diante da sensação instigante que me produz . Entre um copo e outro dou vivas a Boudelaire , Bukowski e Rimbaud. Vivas ao vinho e seus eflúvios, ambrosia dos imortais, das almas incomodadas, dos espíritos indômitos. Certamente graças a ele, ao menos,você pode agradecer por lhe estar contando essas coisas, ou será pra mim mesmo?Bem, o fato é que não venho lhe trazer notícias boas. O mundo é feio, cercado de pessoas egoístas e ignóbeis, excessivamente preocupadas em agradar umas às outras ,não temo afirmar,isto tudo incluindo você. A vida, sem destoar, é entediante e sem sentido. A moral não é menos igual que os caminhos que as formigas percorrem atrás da feromona deixada pelas outras.Apenas por esse motivo, lhe permito interromper a leitura ainda que apenas iniciada e lhe deixo a oportunidade de retroceder, afinal, só os idiotas com suas certezas feéricas são felizes mesmo.Como? Esperança? A esperança é mais uma tolice criada por esse grande lugar-comum em que vivemos. Pra ser franco, a esperança é odiosa: é a última que morre.Sim, sou apenas mais um anti-herói, como você já deve ter se dado conta.Não se preocupe,não me ofendo com o rótulo. Para ser mais claro, me agrada bastante até, afinal, o mundo e a literatura já estão tão fartos desses heróizinhos dândis, que quase podemos dizer que nem precisamos mais deles.Chegou a hora de um outro personagem brilhar em cena : o anti-herói, antídoto para mediocridade.Ariel está morto, sou Caliban como nas páginas negras de nosso profeta maldito.Lembra de quando éramos crianças e adorávamos ver nossos bravos heróis salvando o planeta de alguma ameaça, libertando e defendendo os mais fracos? Depositávamos todos os nossos sonhos nas suas capas, espadas e raios-laser.Invariavelmente já conhecíamos antecipadamente o final, feliz certamente, mais o que importava? sempre aprendíamos com o salutar“moral da história”.Pois bem herói, fique aí mesmo onde está. Muito já se foi falado de você, muito já se construiu em seu nome, chegou, portanto, a hora da destruição.A hora do anti-herói, com sua marreta e suas palavras afiadas como foice.Portanto, esteja certo, finais felizes só existem tão-somente aí, no idílico País da Fantasia. Receio lhe dizer mais: Você, como provavelmente a esmagadora maioria de cretinos que vivem sobre a terra caiu na armadilha lírica do herói.Que? discurso retórico-sofista? niilismo pour épater le bourgeois? Bem, se for, também o que importa? Afinal, sou anti-herói,pária, minha função é essa, apenas destruir.Aposto, que se lhe resta alguma sombra de brio e decerto, a menor resquício de coragem que seja,obviamente você se pergunta.., vá, não tema! – afinal, que armadilha? Et voilà.....abre-se a caixa de Pandora. Começamos a falar a mesma língua.Ouve-se ao fundo um rumor estranho. É a dúvida virulenta abrindo picadas.Abram passagem, aqui, entra o anti-herói. Naturalmente sou má companhia, nefasta eu diria. Amargo pra uns, realista pra outros. Sou panfletário, anti-moral, anti-cultural, anti-cívico, anticorpo, anticéptico, antiaéreo, antífona, antibiótico, anticrese, anticristo, sem dúvidas antipático, todavia, fique despreocupado, não vim pra lhe agradar.

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