sexta-feira, 7 de setembro de 2007

DIZER NÃO É DIZER SIM


Não era machista, só queria lançar displicentemente uma frase de efeito que o fizesse parecer mais experiente e como a roda de amigos compunha-se, na maioria, de mulheres, não temeu dizer :

- Quando a mulher diz não, quer, na verdade, dizer sim.
- Não, não é bem assim- retrucou a moça exasperada.
- Viu, não disse, você só está anuindo com o que disse há pouco, quer dizer sim : As mulheres quando dizem não, dizem sim- reagiu o falastrão.
- Não disse, não!- falou já um pouco confusa.
- Foi o que eu disse! está dizendo de novo.
- Então está bem, desta vez digo sim.
- Acho que não estamos nos entendendo muito bem- disse o rapaz- afinal, você quer dizer não ou quer dizer sim ?
- Quero dizer não, mas você não disse que eu tenho de dizer sim ?
- Sim, eu não disse- foi categórico.
- Espera, você não pode dizer, “sim, eu não disse”- argumentando já um pouco mais exaltada- mas sim “ não, eu não disse”.
- Veja bem, homens dizem não quando querem dizer não e dizem sim, quando querem dizer sim. Você perguntou “ você não disse ?”, e eu, apenas afirmei o que você havia dito, sim, eu , de fato, não disse.
- Mas se eu digo sim quando digo não, este não, não seria um sim ?- entrou no jogo do rapaz

O rapaz, derrotado, resolveu aplicar o golpe mais eficaz inventado até hoje: a verdade

- Olha, vou falar a verdade, só inventei esta história de sim e de não, porque estava te olhando a festa toda e não sabia como me aproximar- de supetão inquiriu- Você quer sair comigo?

A mulher foi enfática:

- De jeito nenhum
- A que horas te pego?- contente perguntou o rapaz
- As sete – respondeu a moça.

LANÇANDO AS BASES DO PARTIDO DO EU MESMO


Minhas mãos suavam mais que um burro de carga em pleno sol a pino.Procurava escondê-las ora as enfiando nos bolsos de minha calça,ora simplesmente cruzando-as para trás de meu corpo.Supunha que talvez ninguém ali naquela sala sequer atentasse para o fato de como elas estavam agitadas, revelando meu desassossego e constrangimento com aquela reunião aviltante,conquanto me parecesse que todos mais hora, menos hora se dariam conta. Percorri levemente com os olhos aquela sala em polvorosa, apinhada de pelegos e bajuladores a fim de encontrar outro, que como eu, visse naquela cena um verdadeiro opróbrio,todavia não percebi ninguém..Todos,subservientes, movimentavam levemente a cabeça em sinal de anuência.O chefe de nossa repartição, um desses glutões de olhar bovino,levantou-se, ajeitou a gravata que trazia invariavelmente em desalinho, largou a mesa e passou a bradar anunciando todas as realizações que haviam sido engendradas durante a administração do partido da situação. Fazia da mesa agora seu palanque e de nós , funcionários, seus militantes. Não via até então nenhum motivo plausível que justificasse o fato de eu estar ali, escutando este amontoado de asneiras. Após certa frase que entoara com mais eloqüência, uma balofa tagarela que havia visto apenas algumas vezes em um departamento ao lado do meu, levantou-se e freneticamente tratou de aplaudir.Aos poucos, todos a seguiram dando vivas ao partido e ao chefe. Ninguém nunca pareceu a meus olhos tão abjeto como aquela funcionária opulenta e lambe-botas que passava inocentemente por mim toda manhã trazendo um grosso volume de processos. Ri de mim para mim e temi mais uma vez que alguns dos meus colegas notassem meu riso sardônico com o canto da boca. Por ora,tive a nítida impressão de que o próprio chefe fixava os olhos em mim,mas aos poucos me recompus. A sala estava de fato abarrotada de gente, haviam convocado praticamente todos a comparecerem à reunião. Jamais vira em todo o tempo em que trabalhei naquela repartição algo parecido para tratar do trabalho que desempenhávamos, contudo, agora que o partido estava ameaçado de soçobrar nas eleições e ruir todo o castelo que haviam montado, estávamos ali,obrigados a fazer honrarias ao partido. Todos sabíamos que possivelmente seríamos os primeiros a conhecer o olho da rua caso o partido viesse a perder nas urnas. Era perceptível os olhinhos amedrontados dos outros funcionários, como que ofertando sua ladainha de imprecações.Certamente também eu necessitava de meu emprego tanto quanto eles, mas não me venderia por tão pouco, por mero cargo temporário ofertado pelo partido. Não, mil vezes não, aquilo tudo pra mim me parecia a cada hora mais exasperante. O chefe calou-se e deu a vez ao seu lugar-tenente, um magrelas que possivelmente seria nosso novo chefe ao julgar pela confiança depositada nele. Dessa vez o discurso não se direcionava a nos mostrar as realizações do partido, mas a nos amedrontar com a hipótese do partido de oposição ascender ao poder. Perscrutei mais uma vez o ambiente dando uma olhadela de soslaio. Ao final da sala estavam os funcionários de pouca graduação, todos em pé, pois não havia cadeiras em número suficiente,esses até me pareceram mais tranqüilos, naturalmente, se perdessem seus sórdidos empreguinhos não demorariam a ser explorados em outro lugar. Os funcionários de nível técnico superior estavam todos dispostos nas primeiras cadeiras, salvo a matrona que se levantara há pouco para aplaudir, esta, não teve o menor escrúpulo de sentar-se nas primeiras fileiras.há poucas semanas já se podia escutar o zum-zum-zum pelos corredores, o partido de oposição virara nas pesquisas e agora possuía a maioria, o que invariavelmente significaria a demissão em massa dos funcionários para a admissão de seus militantes. Era essa a lógica mesquinha e perversa das urnas. Partidos eram apenas e tão-somente cabides de empregos, mausoléu para esses cadáveres ambulantes. Quando se deram conta de que eu não dispensava o mesmo tempo e empenho, tal qual os outros funcionários, com as mesmas preocupações, me indagaram sobre o escrutínio. O primeiro foi um janota imberbe, o frangote chegou a dizer que era impossível alguém com o mínimo de formação, como eu, anular o voto. Pensei em atirar-lhe nas ventas algumas idéias de Proudhon e Bakunin antes que viesse falar em formação.Depois deste fato notei que me olhavam como traidor e faziam comentários maldosos entre eles. Não fiz questão de mudar seus pontos de vista tampouco de deixar claro novamente o meu. Agora lá estava eu procurando uma maneira que me permitisse fugir daquela torturante reunião. O magrelas continuava “afinal,o seus trabalhos dependem disto”,aquela foi a gota d’água,pareceu-me que partiam para um ataque direto e mesquinho:a chantagem.Não me fiz de rogado,lembrei-me da frase “ o governo do homem pelo homem,sob qualquer nome que se disfarce é sempre opressão”,não sei porque mas esta frase instigou meus brios,espalhou-se virulenta pelas minhas entranhas e sua peçonha fez pulsar frementemente meu sangue. Imediatamente meti a mão nos bolsos,puxei o aparelhinho celular e programei para tocar o despertador dali a dois minutos e me preparei. Logo,logo ouviu-se conspurcando a sala o silvo pungente,o hino do eu-oprimido.Todos os olhos questionadores voltaram-se para mim como a não entender tamanha afronta e petulância. Ergui altiva minha cabeça, encarei a todos com bravura e satisfação comigo mesmo, abri a porta e caminhei rumo a minha liberdade..........

MUITO ALÉM DO PAÍS DAS MARAVILHAS: O LIBELO DE UM ANTI-HERÓI



Naturalmente estou bêbado, como irremediavelmente fico aos finais de semana, que para mim, costumam se iniciar lá pelas quartas-feiras.Pois bem, Bêbado, mas não naquele estágio em que os sentidos embotados transformam o mundo em uma cretina poesia nonsense. Bêbado porque provei da saliva inebriante do beijo de Baco e encontro-me extasiado diante da sensação instigante que me produz . Entre um copo e outro dou vivas a Boudelaire , Bukowski e Rimbaud. Vivas ao vinho e seus eflúvios, ambrosia dos imortais, das almas incomodadas, dos espíritos indômitos. Certamente graças a ele, ao menos,você pode agradecer por lhe estar contando essas coisas, ou será pra mim mesmo?Bem, o fato é que não venho lhe trazer notícias boas. O mundo é feio, cercado de pessoas egoístas e ignóbeis, excessivamente preocupadas em agradar umas às outras ,não temo afirmar,isto tudo incluindo você. A vida, sem destoar, é entediante e sem sentido. A moral não é menos igual que os caminhos que as formigas percorrem atrás da feromona deixada pelas outras.Apenas por esse motivo, lhe permito interromper a leitura ainda que apenas iniciada e lhe deixo a oportunidade de retroceder, afinal, só os idiotas com suas certezas feéricas são felizes mesmo.Como? Esperança? A esperança é mais uma tolice criada por esse grande lugar-comum em que vivemos. Pra ser franco, a esperança é odiosa: é a última que morre.Sim, sou apenas mais um anti-herói, como você já deve ter se dado conta.Não se preocupe,não me ofendo com o rótulo. Para ser mais claro, me agrada bastante até, afinal, o mundo e a literatura já estão tão fartos desses heróizinhos dândis, que quase podemos dizer que nem precisamos mais deles.Chegou a hora de um outro personagem brilhar em cena : o anti-herói, antídoto para mediocridade.Ariel está morto, sou Caliban como nas páginas negras de nosso profeta maldito.Lembra de quando éramos crianças e adorávamos ver nossos bravos heróis salvando o planeta de alguma ameaça, libertando e defendendo os mais fracos? Depositávamos todos os nossos sonhos nas suas capas, espadas e raios-laser.Invariavelmente já conhecíamos antecipadamente o final, feliz certamente, mais o que importava? sempre aprendíamos com o salutar“moral da história”.Pois bem herói, fique aí mesmo onde está. Muito já se foi falado de você, muito já se construiu em seu nome, chegou, portanto, a hora da destruição.A hora do anti-herói, com sua marreta e suas palavras afiadas como foice.Portanto, esteja certo, finais felizes só existem tão-somente aí, no idílico País da Fantasia. Receio lhe dizer mais: Você, como provavelmente a esmagadora maioria de cretinos que vivem sobre a terra caiu na armadilha lírica do herói.Que? discurso retórico-sofista? niilismo pour épater le bourgeois? Bem, se for, também o que importa? Afinal, sou anti-herói,pária, minha função é essa, apenas destruir.Aposto, que se lhe resta alguma sombra de brio e decerto, a menor resquício de coragem que seja,obviamente você se pergunta.., vá, não tema! – afinal, que armadilha? Et voilà.....abre-se a caixa de Pandora. Começamos a falar a mesma língua.Ouve-se ao fundo um rumor estranho. É a dúvida virulenta abrindo picadas.Abram passagem, aqui, entra o anti-herói. Naturalmente sou má companhia, nefasta eu diria. Amargo pra uns, realista pra outros. Sou panfletário, anti-moral, anti-cultural, anti-cívico, anticorpo, anticéptico, antiaéreo, antífona, antibiótico, anticrese, anticristo, sem dúvidas antipático, todavia, fique despreocupado, não vim pra lhe agradar.

MOBY DICK: NUNCA MAIS


Antes de tudo, quero vos advertir, leitores mais sensíveis, que façam sua escolha: continuem ignorantes e felizes alheios aos questionamentos do mundo que vos circunda ou, audazes, prossigam e leiam inaudita descoberta- que vos asseguro, vai fazer soçobrar todos os seus conceitos formulados até então-e que agora, este fiel arremedo de cronista vos conta.Pois bem, vocês que escolheram a pílula verde, pasmem, enrubesçam, tenham copiosos arroubos de surpresa ,pois : “MOBY DICK NÃO ERA UMA BALEIA”, isto mesmo senhores leitores, vocês não estão delirando, MOBY DICK, é esta mesma, digo, este mesmo- no masculino- do romance de Herman Melville, pois insisto, não é uma baleia.Ora, você leitor pode se perguntar “ se não é baleia, então por que tem pele de baleia, nadadeiras de baleia, esguicha como baleia ? ”, de fato, ratifico, não era baleia e sim, advirto, um cachalote, “ um que?”, isto, um cachalote. Antes de tão pungente dúvida persista roubando-lhes o sossego, explico: Cachalote, mamífero da família dos cetáceos, que se alimenta de peixes, com cabeça em forma de bigorna donde se extrai um óleo chamado de espermacete, que possui este nome porque, é, bem deixa pra lá......Bem, se não lhes falta argúcia, o leitor mais astuto já compreendeu que dentre outras coisas a baleia, parente do cachalote como o golfinho, se alimenta de plâncton e não de peixe, é animal dócil diferente do cachalote e seu focinho- não posso chamar de cabeça um animal que nem sequer tem pescoço- é comprido, nem dentes possui.E lhes digo mais, tampouco a Orca é baleia como querem que acreditemos. Ora, a Orca é apenas uma Orca. Assim o filme deveria se chamar : “ Orca, a Orca assassina” ou então: “ Orca, o Cetáceo assassino”. Confesso que pela sonoridade e imponência preferimos o antigo nome.Podem os críticos de plantão lhes induzirem a uma visão demasiado superficial de tão séria situação, senhores leitores, advirto-vos a não caírem em tão crasso engano. Então poderiam se perguntar : “ que interessa se é cachalote ou baleia ou até mesmo orca ? ”.Naturalmente , isto é o que “ eles” querem. Asseguro, isto é um problema tão grande quanto uma baleia, ou um cachalote, ou, sei lá..... Bem, o importante é que nos enganaram o tempo todo, porque só sabemos o que de fato importa para a mídia. Ora, se cresci achando que Moby Dick e a Orca são baleias e descubro que fui enganado em coisas, oportuno lembrar, que para eles são tão insignificantes o que dirão das coisas realmente importantes? Como vou saber se o homem foi realmente à lua? Hoje a orca, manhã o país, a economia, Deus, a origem do homem, a história,etc.......