Assunto recorrente nas rodas dos garbosos cavalheiros e damas do Século XVI e seguintes, era a discussão de se poder atribuir características genéricas a certos indivíduos apenas por conta de sua raça, origem ou gênero.
Com efeito, na época muito se perguntava se o negro era gente ou bicho, se o índio poderia ou não ir para o céu ou se a mulher era ou não inferior ao homem. Certamente não faltaram “cientistas” para encontrar fundamentos bíblicos que legitimassem certos discrimens.
Na mesma linha de raciocínio era corrente entre os colonos lusitanos a afirmação que o índio era preguiçoso, mentiroso e fedorento. Era até pleonasmo chamar alguém de índio preguiçoso, bastava apenas chamar de índio.
Dentre os vícios mais comuns e ignóbeis dos silvícolas encontrava-se sem dúvida a "lascívia". Como dizia Caminha se referindo aos habitantes da terra brasilis, estes “Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara”.
As mulheres despudoradas andavam despidas, exibindo suas ancas desenhadas e seus seios rotundos. Os bugres sequer cobriam suas partes pudendas e seus dorsos torneados. Ademais, os gentios fornicavam feito preás, não tendo hora ou local. Se não tinham camas para estirar seus corpos, isso pouco lhes importava, copulavam na florestas, nas redes, no rio, etc. Talvez por isso fossem tão preguiçosos.
Com o passar dos séculos, todavia, foi se dando conta que aquela..., digamos, “suscetibilidade” não era exclusiva do “assanhamento” que é característica de todo indígena descarado e sem vergonha, mas andava por afetar a todos nestas bandas: donzelas pudicas, moçoilas bem educadas na Europa, castos jesuítas e até mesmo acabou ressuscitando o vigor, já há muito perdido, de ricos portugueses estabelecidos na Província do Gão-Pará.
Forçoso fora concluir então, que a origem desta incontinenti luxúria só poderia estar relacionada com o "calor do equador". Outros, procurando arranjar indícios na então incipiente ciência, atribuíam à ingestão das iguarias locais, como : açaí, farinha, tucupi, jambu, cupuaçu, etc. Que teriam certos efeitos afrodisíacos.
Aos poucos a discussão foi perdendo sentido até se perder na noite dos tempos
Pois bem, depois do embate morto há séculos e séculos; depois que certas idéias pareciam enterradas no mais profundo foço de Nuremberg; depois da revolução feminina, da destruição do conceito de raça, depois da internet, das vídeo-chamadas, depois dos avanços da física quântica, da democracia participativa, da pílula do dia seguinte, do papel higiênico para limpar a bunda, da escola de dentes, enfim....Depois de todos estes séculos o cantor sertanejo Luan Santana resolveu retirar a discussão dos anais, compêndios e livros de história e dos alfarrábios dos jesuítas para vida real.
“ as mulheres daqui são todas umas safadas”, supostamente teria dito o cantor sertanejo
Muito bem Sr. Luan, mesmo a despeito de sua parca idade e experiência; de seu rosto andrógino e imberbe e de seu cabelo justinbieberniano, devo concordar com o Sr. Também acho que são safadas, como todos por estas paragens me parecem mesmo safados.
Só mesmo um povo tão safado e sem vergonha poderia criar danças igualmente sem vergonha como o carimbó, o siriá, o lundu e mais atualmente o brega e a lambada.
Talvez seja por conta do atavismo luxuriante dos indígenas ou pelo velho e famoso “calor do equador” que aguça a lascívia; talvez por aquele mormaço característico que ocorre depois da chuva, imprimindo às tardes languidez e preguiça; talvez da dormência tépida que o jambu com tucupi deixam nos lábios...sei lá. O certo é que somos todos grandessíssimos safados.
Enquanto não descobrimos as origens desta latente concupiscência, Sr. Luan Santana, fica aqui os meus conselhos:
O primeiro é que o Sr, presume-se pela idade em pleno vigor físico, deveria aproveitar mais e reclamar menos. Pelo menos assim não correria o risco de levar sopapos de lambadeiros de plantão (igualmente safados como eu e as mulheres paraenses)
Se o primeiro conselho não der certo, Sr. Luan Santana, fica o convite para passar mais tempo sob o calor do equador. Aproveite e mude seu passadio e importe de nosso cardápio diário uma de nossas safadas iguarias, como o tucupi, o jambu, o açaí. De minha parte proponho a fazer como sugeriu Stallone, mas ao invés de macacos, poderíamos mandar toneladas e mais toneladas de nossa melhor fruta, o açaí. Assim, mesmo que o Sr. não goste lá muito da fruta, talvez encontre nela alguma inspiração. Nunca se sabe né???...para Deus e para o açaí, tudo é possível.
Ass: Mais um índio safado
Ps: Beto Barbosa te manda lembranças...