segunda-feira, 5 de abril de 2010

ONTEM DE MADRUGADA



O corpo fatigado estirava-se lasso sobre a cama. Parecia alheio ao tilintar que insistia em chamar pelo espectro que esvoaçava de sonho em sonho, perdido pelos recônditos oníricos da mente. O troar de agudo persistente não se dava por vencido, intercalava gritos pelo quarto sem contudo cessar sua voz. Os livros cobriam as cômodas, anônimos pela escuridão. A garrafa de uísque quase seca e as baganas de cigarros compunham uma mistura que empestava o ar com seu odor barato e acre. Logo após um breve descanso o silvo voltou a ecoar bradando selvagemente, devorando o silêncio com sofreguidão. A TV brilhava muda, esquecida em um canto com as imagens de um filme noir do Polanski indo e vindo na tela sem chamar qualquer atenção. Da rua já se ouvia o disco de embreagem quebrado de um ônibus que fazia sua primeira corrida e os palavrões de um gigolô que cobrava seu troco de uma senhora gorda. Aos poucos o corpo envolto com um grosso edredom, sonolento, voltava a si retomando a consciência. O aparelhinho fremia vitorioso cantando seu hino. Os olhos lenientes hesitavam em abrir. A cabeça rodando mais que bolsa de puta. O coração palpitou acelerado, talvez prevendo de onde vinha o ruído o qual lhe despertara. A mão, vacilante, aos poucos avançava rumo ao celular. Os olhos ansiosos fixaram-se no nome que brilhava no display, como néon no inferninho da esquina. Olhou o relógio: era madrugada. Pensou em não atender. Um turbilhão de pensamentos assaltou sua mente. Era ela…..

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