Há poucos dias fui diagnosticado como TDA/h. A sigla significa em linguagem psiquiátrica transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade. Para alguns, apenas mais uma forma de psicólogo ganhar dinheiro e vender livros, para outros uma disfunção neurológica no córtex pré-frontal (o administrador dos estímulos e emoções), que atinge milhares de pessoas e cujos sintomas são basicamente a extrema desatenção, impulsividade e hiperatividade. Como forma de ilustração já chegaram a comparar a mente inquieta de um TDA como uma Ferrari em uma pista de corrida a 200km/h. Você poderia me perguntar e qual o grande problema de ser uma Ferrari? Muito bem, esta máquina veloz dispara na frente, depois de uns 5 min, volta-se pra outra pista; muda de direção; esquece que está correndo; resolve que não vai mais correr; arrepende-se depois de 5 min; pára no box para abastecer, mas não consegue esperar e senta em um bar pra tomar umas; questiona acerca de uma regra da corrida; impacienta-se, bate propositalmente em outro veículo; chama-o de filho da puta e por fim, breca no auge da corrida e se pergunta, "o que é ser uma Ferrari? eu sou um carro? Por que devo competir nesta corrida? O que é uma corrida?" E por ai vai.
É muito fácil reconhecer um indivíduo TDA com hiperatividade. Na infância é aquele pestinha que corre pela casa, coloca bombinhas de são joão em sua roupa e amarra o rabo do gato. Na fase adulta é aquele colega que não deixa você trabalhar tamborilando na mesa de trabalho e balançando as pernas de um lado para outro como se assistisse a uma final de copa do mundo. Aquele que troca de segundo em segundo as rádios do seu dial sem escutar nenhuma música. Ou o que pára no auge das preliminares para fumar um cigarro, pois não suporta fazer movimentos repetitivos durante um longo tempo.
Muito comum em pessoas com este distúrbio é o que se chama "pensamento derivativo". Funciona assim: azul é uma cor. O mar é azul. Por falar em mar, como era o nome daquele filme do Bergman que se passava em um ilha? Putz, como gostaria de visitar Fernando de Noronha...no que eu estava pensando mesmo?!!!
Com efeito, desatenção, desorganização e esquecimentos são muito constantes no avoado TDA, que só não perde a cabeça porque está grudada ao pescoço. Outro dia encontrei um objeto que julgava perdido ha mais de um ano. Onde estava? Na mala do meu carro. Na verdade já esqueci algumas vezes até que havia deixado o carro em casa e jurei que haviam me roubado. Mas isso é bobagem, certa vez um amigo me procurou para desabafar. Depois de algum tempo falando sem que eu o interrompesse (o que é raro para um TDA ), concluiu: "decidi, vou me separar". Perguntei " putz, mas você é casado?", " Mas, camarada, você foi a minha festa de casamento". Eu, "que festa?" Ele, "aquela que você tomou todas e disse para o pai da noiva que não acreditava naquele casamento". (Ia esquecendo, sinceridade excessiva também é característica marcante).
A bem da verdade chega ser injusto taxá-lo sempre de desatento. O indivíduo TDA pode ser bastante hiperfocado, para usar o termo técnico, em outros assuntos muito mais interessantes para ele. Eu mesmo já gastei horas concentrado em coisas muito mais importantes, como porque "separado" se escreve junto e "tudo junto" se escreve separado ou se a pré-candidata Marina Silva é realmente uma mulher ou um travesti.
Se vires um sujeito caminhando na rua e gesticulando sozinho, pensando em voz alta ou mexendo com as mãos como se tocasse um instrumento, se não for esquizofrênico, pode ter certeza que é TDA.
Não posso deixar de falar da clássica impulsividade e mudanças bruscas de foco, quando se trata de TDA. Como cantava Chico em uma de suas música, o elétrico sujeito age duas vezes antes de pensar e quase sempre não conclui o que começa. Na adolescência papai sempre me acusou de o eterno inconstante. " Filho, você não vai hoje para seu curso de inglês?", " Agora to fazendo italiano". " Mas, você não queria fazer inglês para concluir o curso de comércio exterior e casar com aquela sua namorada estrangeira que está fazendo intercâmbio?". "Agora quero ser chefe de cozinha". Ele "mas, e a namorada?", " Acorda, pai, aquilo foi semana passada". Por conta disto já tentei ser músico de metrô, chefe de cozinha, ditador de país de terceiro mundo, poeta de cordel, diretor de cinema nouvelle vague, só não pensei em ser torneiro mecânico porque prezo muito meus dez dedos.
O irriquieto TDA também costuma ser impaciente, deixa as coisas para última hora e tem repulsa a assuntos burocráticos e enfadonhos. O pesadelo de todo TDA é ter que fazer declaração de imposto de renda no último dia do prazo com uma internet sem banda larga. Esperar idoso que entra na fila do caixa com prioridade para pagar todas as suas contas então é tortura, puta que pariu!!! Preencher fichas burocráticas é sempre um problema. "Para que diabos esta porra quer saber meu tipo sanguíneo?"
Outra característica proeminente é uma certa insubordinação e anarquia subjacentes em todos os seus atos, que quase sempre tomam o caminho oposto ao das regras estabelecidas, recusando-se a curvarem-se a elas. Só pra dar uma idéia, sempre preferi os vilões, ou melhor anti-heróis, nas histórias em quadrinhos, tal qual o Coringa queimando dinheiro no filme "The dark knight" deixando o heróizinho Batman a ver navios. Nem vou comentar com quantos policiais, professores e outra autoridades já bati boca. Minha bíblia é a "Desobediência Civil", minha religião o " Satya Graha"
TDA apaixonado então é dose, multiplique todas essas características por 10. Se você não curte muito relacionamentos iô-iô, nem namore. O cara vai terminar com você no mínimo três vezes por mês. DR nem pensar, não suporta críticas. Vai acabar jogando a culpa em você. Se acaso resolver terminar, não fique lisonjeada se o deprimido TDA tomar todas e chorar durante 6 meses pela separação. Não foi bem por você que chorava, apenas precisava ocupar sua mente em ebulição. Se teme velocidades altas também, pense duas vezes antes de tomar carona com um TDA, costumam dirigir de forma arriscada e têm propensão ao álcool e drogas, então, já viu!!!!
Mas nem tudo são espinhos para esta mente tão criativa. O cara é um artista e para artista se deve dar um certo desconto mesmo, afinal, artistas são como jogadores brilhantes que não fizeram nada em toda a partida, mas cujas habilidades podem defini-la em uma só jogada genial, como aquele gol de mão do Maradona na final contra a Inglaterra na copa de 1986. Falando nisso, continua a eterna briga entre o craque Maradona e Pelé. Como era mesmo o nome daquele filme do Pelé com o Stallone, em que eles eram prisioneiros em um campo de concentração nazista? E por falar nisso lembrei daquele curso de alemão que nunca concluí por falta de paciência. Mas do que é que eu estava falando mesmo??????????